Nos últimos dias, milhões de gafanhotos invadiram cidades e fazendas de parte da Argentina, formando verdadeiras ‘nuvens’ de insetos. Embora não representem um risco direto para os seres humanos, estes ortópteros saltadores podem, em grupo, causar grandes prejuízos econômicos, devorando plantações em questões de horas.
Embora o fenômeno tenha ganhado destaque internacional quando a nuvem de gafanhotos já ameaçava cruzar as fronteiras da Argentina com o Brasil e com o Uruguai, ele não surgiu de uma hora para outra, do nada. Desde 2015, especialistas argentinos estudam o crescimento acelerado desta população, principalmente da espécie schistocerca cancellata, também chamada de gafanhoto migratório sul-americano.
Segundo o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa), os argentinos convivem com um espantoso número de gafanhotos migratórios sul-americanos há muito tempo. Durante a primeira metade do século XX, a espécie “foi a praga mais prejudicial” a atingir o setor agropecuário argentino, “causando significativas perdas econômicas em cultivos e campos naturais de amplas regiões” do país.
Mesmo cientes deste histórico, em 2017, especialistas se surpreenderam com o que classificaram como uma “explosão demográfica dos gafanhotos”. O que motivou os diversos órgãos de governo que lidam com a questão a aprovar, no mesmo ano, um Protocolo Interinstitucional de Gestão de Informações para lidar, de forma coordenada, com os riscos decorrentes do aumento do número de insetos desta espécie.
Em 2019, o país se viu às voltas com uma “emergência regional”, causada pela migração de gafanhotos do Paraguai. Foi neste contexto que, em setembro, representantes da Senasa, do Ministério de Agricultura, Pecuária e Pesca e do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação se reuniram para discutir o acionamento do protocolo.
Além de aumentar a cooperação entre os órgãos das três esferas administrativas (federal, estadual e municipal) responsáveis por medidas de controle da praga, o protocolo também prevê ações de apoio à pesquisa e o compartilhamento das decisões por meio do Sistema Nacional de Alerta e Monitoramento de Emergências (Siname).
Dois meses depois, ou seja, em novembro, a Senasa e a Rede de Organismos Técnico-Científicos para Gestão Integral de Riscos organizaram um novo encontro de especialistas. Realizado em Buenos Aires, no dia 26, a atividade discutiu os estudos sobre o deslocamento migratório da espécie, mecanismos de controle e a possibilidade de captura e aproveitamento produtivo dos gafanhotos.
“Desde sempre, a praga dos gafanhotos é um problema para a agropecuária mundial. Na Argentina, os registros [dos prejuízos causados pela Schistocerca cancellata datam de 1538”, contextualiza o programa do encontro ao mencionar que, após uma década de ações intensivas que mobilizaram quase 7 mil operários, aviões e mais de 12 mil toneladas de inseticida, a infestação começou a diminuir a partir de 1954.
Vizinhos
Hoje (24), segundo a Senasa, a nuvem de gafanhotos está em algum ponto do estado de Corrientes, no nordeste argentino. A proximidade com a fronteira motivou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil a declarar estado de emergência fitossanitária no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A medida visa a permitir a implementação de plano de supressão da praga e adoção de medidas emergenciais pelo prazo de um ano.
Em nota, a pasta informou que está acompanhando o assunto em tempo real e que, até esta manhã, especialistas argentinos acreditavam que os insetos seguiriam em direçao ao Uruguai, por influência da temperatura e circulação dos ventos. Para o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Dori Navas, as baixas temperaturas que vêm sendo registradas na Argentina nos últimos dias tende a dificultar o deslocamento dos insetos. “Isto é fator importante que faz com que o gafanhoto tenha dificuldade de voar. Eles estão migrando porque as altas temperaturas favorecem”, disse Navas a Agência Brasil.
O Ministério da Agricultura do Uruguai também divulgou um informe em que afirma estar monitorando a situação na Argentina. Antecipadamente, o ministro Carlos María Uriarte solicitou que os produtores rurais uruguaios não utilizem pesticidas que possam matar abelhas.
Fonte: Agência Brasil