BOGOTÁ — Depois de acompanhar a posse do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e acordar um trabalho conjunto de Brasil e Estados Unidos contra os governos que os EUA chamam de “troica da tirania” — de Venezuela, Cuba e Nicarágua —, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, visitou o aliado colombiano e reforçou a oposição ao regime da Maduro. Pompeo elogiou o governo de Iván Duque pela pressão contra Caracas, às vésperas da reunião do Grupo de Lima que discutirá o tema, marcada para esta sexta-feira.
— A grande tradição democrática de Colômbia a converte em um líder natural nos esforços regionais para apoiar a democracia e o Estado de Direito na Venezuela — destacou Pompeo, após se reunir com o presidente colombiano na Casa de Hóspedes de Cartagena de Índias, nesta quarta-feira.
Pelo Twitter, Pompeo ressaltou que teve uma “franca e aberta conversa” com Duque sobre objetivos compartilhados, como o cultivo da coca, os direitos humanos, o comércio bilateral e o fim da crise humanitária na Venezuela. Após o encontro, o secretário americano exaltou as relações com o “parceiro genuíno” de Washington.
“Menos de duas horas no solo devem ser um recorde do Departamento de Estado, mas a reunião com o parceiro-chave dos EUA, a Colômbia, é crucial para manter os americanos seguros e prósperos. Continuaremos trabalhando de perto com a Colômbia e todos os nossos parceiros no hemisfério ocidental”, escreveu Pompeo na rede social.
O presidente colombiano, que assumiu o poder em 7 de agosto sob a promessa de isolar diplomaticamente o regime venezuelano, tenta encabeçar a oposição regional a Caracas. Há poucos dias, pediu aos países “defensores da democracia” que não reconheçam o novo governo de Nicolás Maduro, cuja posse é prevista para 10 de janeiro. As eleições em que o herdeiro de Hugo Chávez obteve novo mandato foram boicotadas pela oposição e criticadas por denúncias de fraudes. Boa parte da comunidade internacional, incluindo Bogotá e Washington, decidiu não reconhecer a legitimidade do pleito.
Em dezembro, sem apresentar provas, Maduro vinculou Duque e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, a um suposto plano organizado pelos Estados Unidos para derrubá-lo do poder e até assassiná-lo. A recente expulsão de funcionários de ambos países e a chegada na Venezuela de bombardeiros russos elevou a tensão com os vizinhos Brasília e Bogotá, com os quais a Venezuela compartilha mais de 2,2 mil quilômetros de fronteira.
A Colômbia é o principal país de acolhida da diáspora venezuelana, com mais de um milhão de imigrantes assentados em seu território. Três milhões de cidadãos do país fugiram da severa crise política e econômica na Venezuela.
— Todos os países que defendemos a democracia devemos nos unir para rechaçar a ditadura da Venezuela e restabelecer a ordem constitucional. A ajuda humanitária é necessária, por isso destacamos o respaldo dos Estados Unidos à atenção aos imigrantes — ressaltou Duque, após a reunião com Pompeo, ao pregar o fortalecimento “todos os dias” do elo bilateral.
O chefe da diplomacia americana recordou que seu país destinou quase US$ 92 milhões — US$ 55 milhões em ajuda humanitária e outros US$ 37 milhões em assistência econômica — para ajudar Bogotá na resposta à crise venezuelana.
A viagem do secretário de Estado é a primeira de um alto funcionário americano desde que Duque chegou à Casa de Nariño, e ocorre depois de duas visitas anunciadas e posteriormente canceladas pelo presidente Donald Trump. O encontro se deu antes de uma nova reunião, na capital peruana, do Grupo de Lima, formado por 14 países que incluem Argentina, Brasil, Canadá e Colômbia, entre outros, mas não os EUA. Alguns observadores esperam que o bloco fixe uma posição conjunta sobre a iminente posse de Maduro.
Fonte: O Globo