Os recentes apagões em São Paulo expõem a falência do modelo de privatização do setor elétrico no Brasil. Desde o início do apagão, em 11 de outubro, a capital paulista ainda sofre com a falta de energia, e especialistas apontam a deterioração dos serviços da Enel como um dos fatores críticos. A gestão inadequada da concessionária e a falta de coordenação com a prefeitura foram determinantes para a lentidão na recuperação do fornecimento.
Falência do modelo de privatização
De acordo com Ikaro Chaves, engenheiro eletricista, a qualidade da distribuição de energia elétrica caiu drasticamente. Ele observa que, após 30 anos de privatização, já é possível avaliar o impacto desse modelo. “Está mais do que provado que não tem funcionado”, afirma Chaves. Ele destaca que, em um setor monopolista, a concorrência não beneficia o consumidor, o que agrava a crise no fornecimento de energia.
Chaves também critica a regulação feita pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Ele afirma que o corte de custos na mão de obra, que resulta na demissão de profissionais, prejudica a manutenção da rede elétrica. Nos últimos seis meses, a Enel desligou 227 funcionários que eram responsáveis pelo religamento da energia, o que compromete ainda mais a qualidade dos serviços.
Coordenação e soluções para os problemas elétricos
O professor José Aquiles Baesso Grimoni, da Universidade de São Paulo, complementa que a falta de coordenação entre a Enel e a prefeitura foi um fator chave para a demora na recuperação da rede elétrica. “O comitê de crise da cidade não funcionou. Faltou planejamento e diálogo entre as partes envolvidas”, destaca. Segundo ele, a remoção de árvores que caem sobre a rede deve ocorrer rapidamente para restabelecer o fornecimento.
Grimoni propõe que a solução para os apagões recorrentes em São Paulo é o enterramento das linhas elétricas. No entanto, ele adverte que essa solução requer investimento conjunto das esferas federal, estadual e municipal. “O enterramento é uma solução, mas demanda recursos e vontade política”, conclui.
A crise na distribuição de energia em São Paulo é um exemplo claro da fragilidade do modelo de privatização do setor elétrico. A combinação de cortes de pessoal e falta de coordenação entre as autoridades resultou em um apagão que expõe os problemas profundos na infraestrutura elétrica do estado. Para superar esses desafios, uma abordagem integrada e a reavaliação do modelo atual são essenciais.
Foto: Paulo Pinto/ Agência Brasil