Com o Gabinete de May, o país, os partidos e o Parlamento irremediavelmente divididos sobre levar adiante o Brexit, o universo político do Reino Unido está implodindo, bem como suas regras.
Em qualquer outro momento, seria esperado que um primeiro-ministro que perdeu a principal bandeira de seu governo renunciasse. Ninguém espera que May deixe o cargo esta semana. Mas agora que a votação acabou, todos os argumentos a favor e contra ela, e a favor e contra cada possível mudança do Brexit, serão liberados.
Cada lado em cada um dos dois principais partidos lutará por um resultado, desde um Brexit sem acordo até uma partida mais branda que deixaria o Reino Unido mais próximo da União Europeia, ou abandonar completamente a ideia de sair. Prever quem vencerá é impossível porque nenhum desses lados tem maioria e ninguém sabe como ou se serão formadas alianças.
Todo desfecho soa improvável, e a maioria, totalmente implausível, embora tudo — desde outra eleição a um governo de unidade nacional — venha sendo sugerido.
Todo mundo está terrivelmente — ou de forma exultante — ciente de que se dentro das próximas semanas o Parlamento não concordar com o acordo de May, ou com qualquer outro acordo, ou com devolver a questão para a população num referendo, o Reino Unido vai deixar a UE no final de março, esmagando sua economia e as relações com os parceiros comerciais mais próximos.
Com os membros do Partido Conservador tão divididos, o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn está em uma posição potencialmente poderosa. Se ele se unir aos conservadores no acordo de May, ou apoiar um segundo referendo, ou ainda se decidir por um Brexit mais suave, essas propostas possivelmente passarão. Mas, até agora, o partido se recusou a se comprometer com qualquer uma delas, porque também está dividido entre os que querem deixar a UE e os que querem permanecer.
Até então, ficar em cima do muro caía bem a Corbyn, um eurocético de longa data. Essa evasão confortável, porém, não pode ser sustentada após a derrota esmagadora de May. O Partido Trabalhista terá que escolher lados e viver com as consequências de sua escolha. Os membros do Parlamento e os líderes dos partidos serão confrontados com a mais dura das escolhas: o futuro do Reino Unido será decidido no próximo mês.
Nenhum partido tem votos para fazer essa escolha por conta própria. É um azar para o Reino Unido que, neste momento, quando a cooperação e a diplomacia são necessárias para evitar um desastre político e econômico, tanto a premier quanto o líder da oposição sejam conhecidos como cautelosos, obstinados, pouco criativos, irredutíveis e sem charme.
Fonte: O Globo