Gaitano Antonaccio *
Quem jamais contemplou o horizonte verdejante que se descortina sobre uma imensidão de águas doces, negras, amareladas, barrentas e alvas ao mesmo tempo, – formando o imperador dos rios do Universo, – o Amazonas, não poderá dizer nada sobre essa beleza Indefinida. Nem poderá dizer tampouco do prazer visual de uma paisagem incomum entre uma floresta tropical sem fim, e os infinitos estuários da maior bacia hidrográfica do mundo, subjugados pela força de uma natureza invencível. Quem nunca esteve presente até hoje, neste cenário que forma um céu de muitas estrelas, permitindo ao mesmo tempo, observar as nuvens que se formam às vésperas de ensaiar as grandes tempestades capazes de enfurecer as águas mansas de um rio maior que o mar e torná-las tão onduladas quanto às ondas dos oceanos, não pode imaginar a visão maravilhosa da piracema, da pororoca, nem sabe nada sobre enchentes e vazantes, – das águas bailarinas que dançam sob o som harmônico das chuvas e diante das imposições das águas marítimas arremessadas da Cordilheira dos Andes, no Peru.
Se aprofundarmos uma pesquisa histórica, vamos chegar à conclusão de que nem mesmo a Roma antiga do colossal Júlio César, ou a Grécia dos filósofos e poetas foram tão amadas, discutidas, cobiçadas e decantadas do que a Amazônia Brasileira. Os amantes da Amazônia multiplicam-se dia e noite, mas poucos merecem essa designação, pois alguns, desconhecem o seu solo. E não há dúvida de que o sentimento que pulsa no coração de um amante da Amazônia, não sendo filho da terra, jamais poderá ter a mesma intensidade, a sensibilidade, o ardor e a chama de amor telúrico, que impulsionam o coração de alguém nascido e criado no solo amazônico. Não se pode querer de um alienígena, que o seu sangue seja da mesma cor do sangue tupiniquim que passeia no corpo dos caboclos nascidos na Amazônia, seja esse sangue mais puro ou menos puro.
Impossível encontrar na voz de quem não nasceu na Amazônia, o sotaque nheengatu do historiador Mário Ypiranga Monteiro; impossível contemplar nas cores da natureza, as aquarelas vibrantes expostas nas paisagens coloridas da região, pelo artista caboclo Moacir Couto de Andrade, que peregrinou pelo mundo europeu fazendo todos se deslumbrarem; quem poderá testemunhar a paixão imensurável de um leal filho da terra, como o saudoso amazonólogo Samuel Isaac Benchimol e, raros são os que poderão imaginar que oradores diferentes, podem descrever a natureza amazônica, da mesma forma e com o mesmo talento de um Bernardo Cabral. Jamais encontraremos na prosa ou na poesia de qualquer artista das letras, a vibração de amazonenses como João Mendonça de Souza, Carlos de Araújo Lima, Thiago de Mello, quando defendem essa pátria verde, cheia de mistérios e fascínios. Dessa estirpe tivemos ainda, os saudosos, Leandro Tocantins, Mavignier de Castro, João Nogueira da Mata, João Chrysostomo de Oliveira, Manoel Bastos Lira, Djalma da Cunha Batista, Arthur Cezar Ferreira Reis e outros integrantes de um exército desaparecido de nosso convívio. O mundo perverso substituiu o mundo romântico. A tecnologia despreza a arte, porque adora o conforto e torna o mundo menos humano. A internet favorece os que não criam e apenas copiam, infelizmente. Mas, em verdade, estamos no contexto de um mundo elevadamente científico, onde a verdade está em campo aberto; e num processo tecnológico, onde a máquina corrige as falhas humanas, mas não deixamos de permanecer num universo, onde o homem continua humano, onde o cérebro repleto de sabedoria agasalha milhões de emoções e o coração rebenta esse cérebro, se não as controla. Esse processo que fortifica a vida é o mesmo processo que a enfraquece. Nunca, pois, foi tão necessário cultivar o cérebro e abrandar o coração. E não nos devem intimidar declarações estapafúrdias de poderosos grupos econômicos mais desenvolvidos do planeta. Eles invadem a Amazônia por meio de suas teses agressivas e ilusórias, conquistam espaços em nossas terras sem pisá-las ou conhecê-las. Querem usufruir da felicidade da natureza bela e farta, passando ao largo do sofrimento das distâncias, das doenças tropicais disseminadas pelos insetos, que ao mesmo tempo nos matam e nos protegem. Desconhecem as vicissitudes que essa mesma natureza misteriosa impõe ao homem que ela gera e pune, mesmo quando esse homem, na sua inocência, a preserva com intuição divina, amor e com o sacrifício da própria vida.
Os conquistadores sutis, estrategistas silenciosos, donos de um mundo conquistado com a riqueza mesquinha e jamais distribuída, querem tomar posse da Amazônia, dando a impressão de agir legalmente, mas na calada da noite contam com a conivência dos criminosos apátridas e sem civismo, onde, infelizmente, encontramos alguns jornalistas brasileiros, passando-se, falsamente por defensores. E os invasores de nossa soberania ingressam na Amazônia sem quaisquer censuras ou vigilância, negociam as terras que já conhecem, por meio de mapeamentos adquiridos com a espionagem facilitada pela tecnologia das grandes potências, por meio de algumas organizações não governamentais e conseguem o que pretendem. O mais triste e desolador nesse procedimento invasor, tem sido as constantes reportagens negativas contra a Amazônia, muitas vezes patrocinadas por jornalistas brasileiros, em busca de cachês volumosos, que em outas palavras, traem a própria Pátria, como verdadeiros apátridas. (AGUARDEM MAIS 4 PARTES A SEREM PUBLICADAS)…
* Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias: de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – ALCEAR, Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas, da Brasileira de ciências Contábeis, de Letras do Brasil, de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santo e outros.