Gaitano Antonaccio*
Em 1918, o filósofo libanês Gibran Kahlil Gibran, para quem Deus era representado pela natureza, e que corria de encontro às tempestades, quando ainda criança, causando preocupações para sua mãe, que se desesperava em busca do filho perdido nas tormentas dos temporais, costumava dizer sobre as florestas, que, se no mundo só existisse uma árvore, a humanidade toda viria se ajoelhar no seu tronco, em busca de uma sombra. Naquele tempo até o termo meio-ambiente dificilmente era citado oralmente ou por escrito.
Em verdade, só sabe a importância que tem a natureza para a sobrevivência saudável do homem, quem vive das suas dádivas, das suas farturas, dos seus mistérios e sem dúvida de tudo aquilo que ela dá e toma, oferece e oculta no seu habitat natural. Se na exuberância das florestas, na majestade dos rios, nas riquezas da flora e da fauna, existe um povo que sempre soube amar a natureza, esse povo é o da Amazônia. Se há homens capazes de conviver com o meio ambiente e jamais depredá-lo por ganância, prazer ou maldade, é o caboclo que habita os mais longínquos municípios, e que antes de tudo, ama sua região, mesmo sofrendo de diversas epidemias, distâncias e isolamento perverso.
A Amazônia vem sendo chamada, constantemente, para salvar a humanidade pela carência de bens naturais, porque exatamente os países ricos não fizeram as reuniões que fazem atualmente, não firmaram os protocolos que estão redigindo na atual conjuntura, mesmo tendo conhecimentos científicos, de que estavam prejudicando o meio ambiente e empobrecendo a natureza de Deus. Eles extinguiram suas reservas ambientais, pela simples ganância industrial, pela busca ignóbil das riquezas da terra, sem devolver a essa mesma terra, o mínimo que dela retiraram. Destruíram florestas, faunas, floras, mataram índios, caçaram animais de forma criminosa, poluíram as ruas de suas cidades, infestaram os céus com gases tóxicos, imaginando que a riqueza pura e simples os compensariam.
Hoje, quando são realizados programas visando a preservação do meio ambiente, a humanidade ainda continua a imaginar que a Amazônia deve ser a responsável exclusiva pela salvação da natureza e querem condenar seu povo, pelo estrago que eles fizeram ao longo da História. Valeria a pena uma reflexão honesta, onde se perguntaria aos países desenvolvidos, ricos e de olho nas reservas naturais da Amazônia: será que eles não poderiam recuperar o meio ambiente que depredaram, as riquezas de solo e subsolo que extraíram sem repor? Por que estes senhores não se aliam a algumas Organizações Não Governamentais e elaboram um grande projeto internacional de florestamento, reflorestamento, despoluição de rios e lagos, igarapés e riachos, praias e monumentos depredados, a fim de permitirem aos povos como os da Amazônia, que tratem do seu destino e da sua natureza, como o fizeram até hoje?
Vivem ameaçando invadir nossa soberania, e se consideram proprietários de nossa natureza…Querem nos proibir de usar o que Deus nos permitiu e preservamos e não buscam reconstruir nada do que destruíram.
Sabem por quê? Exatamente, porque é do interesse da comunidade internacional atenta às nossas riquezas naturais, explorar o que nós preservamos à custa do sacrifício de nossos caboclos, que mesmo morrendo das mais perversas epidemias tropicais, souberam cuidar do habitat em que vivem, por terem noção de sua importância para a sua própria sobrevivência. Sem conhecimentos científicos, sabedoria ou dotados de tecnologia, entretanto, sempre agiram por amor à natureza e pela intuição, que lhes favorece a preservação.
A maior prova da consciência amazônica sobre o meio ambiente ficou constatada com a Zona Franca de Manaus, onde um Polo Industrial foi criado com mais de 500 indústrias de tecnologia de ponta e para orgulho dos brasileiros, a natureza da região foi preservada sem quaisquer sintomas causados pelas indústrias implantadas. Esse amor telúrico dos amazônidas pela natureza, teve origem na época do fastígio da borracha, respeitando as seringueiras, quando o homem do interior, ao sangrar os troncos das árvores para extrair o látex, choravam antes de a seiva escorrer. Diariamente, numa faina de 5 da manhã, às 5 da tarde, com uma lanterna colocada na testa para clarear os caminhos escuros que se faziam entre as árvores, os seringueiros sabiam que não poderiam derrubar quem os mantinha de pé e sobrevivendo. Morriam na floresta, de doenças infecciosas, mas não matavam as árvores.
Não é justo a humanidade questionar a preservação da floresta amazônica, impondo ao homem que nela habita, que se precise morra de fome, para tal realidade. Não é uma solução admissível para quem é proprietário daquilo que soube preservar para a sua sobrevivência. Que se plantem novas florestas, com programas de incentivo para cada família, em cada região do mundo.
Para os povos da Amazônia continuarem preservando o meio ambiente, pelo amor que devotam à natureza, o mundo precisa se comprometer a criar meios e formas de reconstruir o meio ambiente que destruiu, custear com recursos financeiros internacionais a vida desses povos, dando-lhes as condições humanas necessárias a persistir nessa preservação consciente, e não na preservação que lhes tira o direito de cidadania, liberdade e propriedade, com ameaças à nossa soberania.
*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas, da Academia Brasileira de ciências Contábeis, da Academia de Letras do Brasil, da Academia de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras.