A Revolta da juventude requer a tolerância dos Pais

Gaitano Antonaccio

A humanidade do século XXI, tendo conquistado tantos avanços na Ciência, maravilhas na Tecnologia, com descobertas inimagináveis no dia a dia, onde jamais o ser humano se preparou para retrocessos, de repente foi assaltada por uma pandemia miserável, destruidora, acompanhada de uma doença terrível, desconhecida, batizado com o nome de Covid 19, que sem piedade vem dizimando famílias, cidades, estados e países. E tudo nos leva a ter certeza de que nasceu na China comunista. Com dois anos de atuação devastadora, ainda hoje os cientistas discutem, erram, buscam respostas, mas ninguém conseguiu entender ao pé da letra do que se trata essa desgraça que invade o corpo, penetra em todos os nossos órgãos, deixa as mais desconhecidas e surpreendentes sequelas, não se preocupando com a qualidade, cor, idade, sexo, ou quaisquer condições humanas das vítimas. Igualou a todos…
Dessa situação catastrófica, em que a humanidade atônita, nem a Deus consegue recorrer com a mesma fé de outrora, a parcela mais atingida de forma dramática, foi a da juventude. Melhor dizendo, os nossos filhos com idade escolar do curso médio. Há em cada jovem, uma revolta admissível, posto que, de repente, passaram a ser castigados com isolamento, proibidos de ir e vir ao Colégio, participar do seu quotidiano de festas, reuniões com amigos, lazer próprio da idade entre 12 a 18 anos, e nada mais natural do que os constantes aborrecimentos, os repetidos questionamentos, buscando um entendimento para um sofrimento no qual jamais contribuíram para surgir.

Proibidos de amar com a intensidade que o mundo lhes ensinou, com beijos, abraços, sexo, carinho, agrupados em reuniões festivas, em grupos de estudos, na prática dos esportes coletivos e nas salas de aulas, estes jovens começaram a ser proibidos de amar, de conviverem livremente uns com os outros, sentiram que em casa o dinheiro escasseou, a alimentação perdeu a qualidade, a gasolina do carro ficou mais controlada, os gastos nos shoppings centers e casas de show não podem mais ser assíduos e rotineiros, porque nem os cartões de crédito escaparam do controle, e sem apelação nasceu a revolta com muita intensidade para alguns, moderada para outros e silenciosa para uma grande maioria que compreende a situação dos pais. Mesmo os que possuem privilégios, como os filhos de políticos, os dependentes de membros do poder judiciário, legislativo ou executivo, os favorecidos por cargos nas empresas estatais, restou contra estes, o isolamento social, a proibição de se aglomerarem como antes, o uso obrigatório das máscaras, o protocolo da higiene e sem perceber foram igualados os que lutam sem privilégios e os privilegiados.
Essa pandemia atingiu com maior perigo de morte, os mais velhos, entretanto, os que mais sofreram suas consequências foram os jovens, que perderam a razão de viver em comunidade, ficaram proibidos de abraçarem, se aproximarem, obrigados a fugir da morte, sacrificando a parte mais importante de suas vidas, que é a juventude, a mocidade, onde todos costumamos desenhar nossos sonhos, para tentar realizá-los e usufruir do esforço e da dedicação.

Sem uma solução diferente, a não ser a da renúncia, sem a qual poderão ser atingidos pela morte, nossos jovens perderam a alegria e a felicidade de antes e precisamos entender suas revoltas, suas contestações com tudo que se lhes apresentamos. Sim, nós pais, temos as nossas culpas, de certa forma.

Difícil mudar comportamentos de pessoas que nas diversas infâncias, têm procedimentos diferentes, embora tradicionais e aceitos como regras de vida. Do nascimento até os 4 anos de idade, a chamada fase pré-escolar (período edipiano), estão todos condenados a aguardar para conhecerem o que é o convívio em grupo. Dos 4 aos 6 anos de idade, indiscutivelmente, a fase da segunda infância, falta-lhes o período de latência, onde começam as conquistas dos amiguinhos, e segue a dos 6 anos até a puberdade, quando ingressam na fase da adolescência, para chegarem à idade adulta, que para especialista começa dos 10 até os 18 anos. De acordo com a psicóloga e neuropsicóloga Luciana Caldas Pinto de Oliveira, graduada pela Universidade de Salvador, o processo de desenvolvimento infantil está relacionado às condições biológicas, ambientais e de interação vivenciadas pela criança ao longo da sua infância.

Para o pesquisador Jean Piaget, esse processo possui quatro fases: de 0 a 2 anos, chamado sensório motor, o pré-operatório dos 2 aos 7 anos; o operatório, nas crianças de 8 a 12 anos e o operatório formal, que começa aos 12 anos. Importante salientar que no período dos 7 aos 12 anos, as crianças precisam ser estimuladas para a leitura, sob pena de jamais começar a cultivar esse hábito essencial na sua formação, para construir valores morais e definirem seus sonhos, seus ideais e como querem conduzir o seu futuro. Tarefa primordial dos pais e mestres nessa fase é ensinar os jovens a viver, sem deixar que apenas cumpram seus deveres, exijam os seus direitos, sem a percepção exata de que cada um deve enfrentar na luta pela sobrevivência feliz.

Há necessidade de um diálogo permanente entre pais e filhos, mestres e alunos, sem jamais os protagonistas exercerem o poder de mando, aplicando de forma autoritária suas experiências, mesmo positivas, sem respeitar a vontade dos que estão condicionados ao aprendizado. Vale aqui a necessidade de se estabelecerem conversas amistosas, onde a liderança deve ser exercida com firmeza, mas prontas para algumas renúncias, com hierarquia, mas admitindo que é possível trocar a hierarquia por diálogos e ideias, respeitando-se as condições de insegurança dos jovens, que precisam de convencimento maior para aceitarem uma convivência harmoniosa e experimental. Ninguém pode se considerar dono da verdade, até que os resultados respondam por ela

Estamos na conjuntura da tolerância total para com nossos filhos, se quisermos, nós, os mais velhos, conduzir nossos filhos e netos sob a filosofia do amor, da paz e da harmonia, que devem direcionar nossas condutas mergulhadas numa pandemia histórica, onde as revoltas e contestações são óbvias.

Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas, da Academia Brasileira de ciências Contábeis, da Academia de Letras do Brasil, da Academia de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santo e outras.