A imigração dos Japoneses para o Amazonas sua contribuição para a economia do Amazonas

PRIMEIRA PARTE
Gaitano Antonaccio

Logo após o ciclo da borracha começar a sua derrocada, a partir de 1920, os governantes do Amazonas começaram a ter grande preocupação com a cultura de outros produtos regionais, a fim de se encontrar uma alternativa para retornar o progresso da Região, que se ressentia na sua economia. A partir de 1920 foram muitas as falências, as debandadas de importadores e empresários que haviam chegado de várias partes do mundo, e mesmo de outros estados da Federação Brasileira. Havia um cenário de miséria no interior, as doenças tropicais atingiam nossos caboclos, a malária se apresentando como a mais grave, dizimava famílias e os seringueiros vindos do Ceará, do Pará e outros estados, sem contarem devidamente com assistência médico-hospitalar e medicamentos que debelassem tantas enfermidades causadas por insetos.

Depois de algumas tentativas dos governos do Pará e Amazonas, numa busca incansável para amenizar a calamidade econômica que se abateu sobre a região, o coronel Efigênio Salles, presidente da província do Amazonas ofereceu aos japoneses, conhecidos pela sua competência nas atividades agrícolas, um milhão de hectares de terras, em troca de sua mão de obra especializada. Desde 1926 o governador havia solicitado da embaixada do Japão, na cidade do Rio de Janeiro, a vinda de colonos japoneses para o Amazonas, com o objetivo de executarem atividades agrícolas no interior. O embaixador japonês, na época, Sr. GENSABURO YAMANISHI, um jovem e notável empresário, visitou o Amazonas e percorreu várias cidades, a fim de tomar conhecimento da verdadeira situação e acionar seu governo na intenção de colaborar com a Região Amazônica.

O governador da Província, coronal Efigênio Sales, apresentou um projeto, que depois de o deputado japonês TSUKASA UYETSUKA tomar conhecimento do mesmo, acreditou na sua viabilidade e se propôs a executá-lo, assumindo a responsabilidade pelo mesmo. A proposta do govenador em doar as terras para o projeto foi rejeitada pelo Senado Federal, mas isso, entretanto, não intimidou o deputado UYETSUKA, que imediatamente comprou uma área com um milhão e meio de hectares, no rio Amazonas, próximo ao Paraná do Ramos, a leste da cidade de Parintins, com acesso de aproximadamente 20 minutos de barco. A localização dessas terras facilitava o escoamento da produção entre Manaus e Belém. Começava-se assim um grande cultivo de juta oriunda da Índia, mesmo a despeito de, como sempre o Senado da República não se sensibilizar com os problemas da distante Amazônia.

Enquanto UYETSUKA passou a implantar o seu projeto, os imigrantes japoneses começaram a imigrara para o Amazonas, e no dia 12 de outubro de 1929 chegou o primeiro grupo, partindo do porto de Kobe, integrado por nove famílias, com 49 membros. Esse grupo aportou no município de Maués, no dia 2 de janeiro de 1930, depois de visitarem o Rio de Janeiro e Belém, do Pará. Seguidamente, em 22 de julho do mesmo ano, chegaram outros grupos integrados por 13 famílias, com 56 japoneses. Chegavam todos com a missão de restaurar o cultivo do guaraná de Maués, quase sem atividade, o que foi restaurado a partir de 1932, com a fundação da Associação Nipo-Brasileira de Maués, pelo imigrante empresário, Sr. HISAE SAKYIAMA.

A aceitação do convite pelo governador, deu ensejo à publicação de um ato no Diário Oficial do Estado, no dia 8 de março de 1927, concedendo a título de opção, uma gleba de terras composta por um milhão de hectares, a fim de ser explorada por dez anos, com amparo na Lei nº 114, de 20 de outubro de 1926.

Passados os dois primeiros anos e não tendo sido cumprido o projeto, o deputado federal pelo Japão, Sr. TSUKASA UYETSUKA conseguiu uma prorrogação por mais dois anos, dando ensejo a fundação de um núcleo de colonos japoneses, em Vila Batista, de propriedade de Palheta Batista, cuja área foi adquirida em seguida pelo deputado ISUKASA. Para cumprir o novo prazo e executar o programa, o deputado TSUKASA fundou o Instituto de Pesquisa da Amazônia e mudou a denominação de Vila Batista para Vila Amazônia. Esse Instituto, foi reconhecido oficialmente no dia 21 de outubro de 1930, e não deve ser confundido com o INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

No Japão, a fim de dar maior agilidade ao projeto, os japoneses fundaram a
Escola Nipônica e Científica de Plantação, diplomando muitos jovens, surgindo os técnicos KOTAKUSSEIS, como eram conhecidos os alunos. A partir do dia 20 de junho de 1931, esses jovens passaram a ser enviados para o Amazonas, época em que desembarcou a primeira turma com o objetivo de exercer o cultivo já juta, realizando estudos e pesquisas no solo e disseminando a plantação da espécie.

Vale salientar que o cultivo da juta teve a sua origem em Bengala, na Índia, com duas espécies: a Crochorus C. Capsulares e a C. Olitorius, da família das Tiliáceas. O nome dado à juta, de Cânhamo-de-Bengala ou Cânhamo de Calcutá, tem afinidade com sua origem indiana, que remonta, segundo alguns historiadores a 1746. A cultura da fibra da juta demora um período de um ano e sua altura varia entre dois a quatro metros e meio. Mas antes da criação do Instituto de Pesquisa da Amazônia, já se cultivava essa fibra por meio da malva, conhecida também como UAICIMA, de pequena estatura, conhecida como juta anã.

Mas a juta não floresceu como esperava o deputado TSUKASA e outras tentativas começaram a ser encenadas. Quando chegou a ano de 1934, em Parintins, na ilha Formosa, o proprietário de uma gleba de terras, de nome RYOTA OYAMA, conseguiu um novo tipo de fibra adaptável à região, que chegava a crescer até 4 metros ou mais, e a partir de então, a região passou a ter um período de grande prosperidade, chegando a produzir em 1936, várias toneladas de juta, que também passou a ser conhecida como Oyama.

*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de ciências Contábeis; de Letras do Brasil; de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras. ”