Gaitano Antonaccio*
Que será de ti Amazônia? Essa é uma frase usada pelo saudoso poeta Jorge Tufic numa de suas bonitas criações poéticas. E eu peço vênia ao pujante beletrista acramacense (mistura de acreano, amazonense e cearense), pois o Jorge nasceu no Acre, viveu no Amazonas e se consagrou, literalmente, no Ceará, terra em que projetou a marca profunda de sua intelectualidade. Tufic enfatizou o seu desesperado grito, ao não vislumbrar na Amazônia, os sucessores de alguns guerreiros ceifados pela morte, os comandantes-em-chefe das trincheiras corajosas e desprendidas na defesa da região.
A cobiça internacional que se projeta contra a Amazônia não é mais embrionária ou despida de estratégias, de malícia e sem um desejo indisfarçável de invasão. A região nunca necessitou tanto do esforço e da intelectualidade de seus defensores, a fim de motivar não apenas autoridades nacionais, mas as internacionais, para manter a sua soberania sob todos os pontos de vista.
Vejamos num pequeno memorial, o que se passou ao longo dos últimos anos, desde o início do século 19 até os dias que correm. Sem dúvida, o primeiro grito estratégico, as primeiras defensivas movidas por uma grande intelectualidade, partiram do amazonólogo Arthur Cezar Ferreira Reis na obra A Amazônia e a Cobiça Internacional. Depois foi seguido pelo cientista Djalma da Cunha Batista, com a obra O Complexo da Amazônia. No vizinho Estado do Pará, tivemos o notável historiador Leandro Góes Tocantins, lavrando obras como O Rio Comanda a Vida e Amazônia – Natureza, Homem e Terra. Este último foi prefaciado por Arthur Reis, que às páginas 14 da 2ª. edição, comentou:
“O que se sente, porém, mais intensamente à leitura atenta de suas páginas, tão cheias de vida, de sabor literário, é que a Amazônia não se libertou daquele destino a que nos referimos, prosseguindo no seu papel de região útil aos outros, ao bem-estar de regiões distantes, que se civilizaram na base de muito do que ela lhes mandou e que elas souberam manejar com a inteligência pragmática, utilitária e imediatista.”
O grande mestre refere-se aos outros, que ora se vestem de invasores, programando a conquista da região, no varejo da pirataria crescente, contra a sua biodiversidade, contra a sua natureza e acima de tudo, agem no atacado, contra a sua soberania. As grandes potências internacionais já mapearam toda a Amazônia e agem com a consciência tranquila e certeira do que buscam com essas atitudes. Milhões de hectares já foram alienados, inúmeras reservas indígenas estão sendo negociadas, a flora e a fauna da Amazônia começam a ser patenteadas no Japão, na Europa e há uma passividade estranha contra esse comportamento.
Na guerra cultural contra a cobiça internacional, as lacunas deixadas em nossas trincheiras heroicas, formadas durante muitos anos, pelos dois intelectuais acima, e por outros, como o professor Agnello Bittencourt, Samuel Isaac Benchimol, Mário Ypiranga Monteiro, João Mendonça de Souza, Carlos Dagoberto de Araújo Lima, João Nogueira da Mata, Manoel Octávio Rodrigues de Souza, José Bernardino Lindoso, Djalma da Cunha Batista, Manoel Bastos Lira, Albertina Rego de Albuquerque e outros amazônicas lúcidos e guerreiros, não vêm sendo ocupadas nas mesmas proporções de número e de grandeza nos dias atuais.
Dessa plêiade notável de guerreiros intelectuais, ainda sobrevivem na luta, o ex-ministro e ex-senador Bernardo Cabral, incansável digladiador nas arenas do Congresso Nacional, nos bastidores de diversas entidades culturais, criando e defendendo teses em defesa da soberania da Amazônia no Brasil e no exterior, os historiadores José Lopes da Silva, Antônio Souto Loureiro, os poetas Thiago de Melo, Jorge Tufic, além daqueles que fazem coro sem pertencer em verdade, aos integrantes amazonenses. Peço vênia para incluir meu nome entre os escritores que integram esse novo exército, e invoco alguns de meus livros publicados, como Entidades e Monumentos do Amazonas; A Colônia Árabe no Amazonas; Zona Franca – um romance polêmico entre Amazonas e São Paulo; Amazonas – A outra parte da História; Turismo – Análise, Críticas e Sugestões; Ideal Clube – 100 anos de aristocratismo; e, principalmente nos livros em que biografei Mário Ypiranga Monteiro, Samuel Benchimol, Djalma da Cunha Batista, Manoel Bastos Lira, Newton Sabbá Guimarães, João Nogueira da Mata, João Chrysostomo de Oliveira, além de milhares, sim, milhares de artigos em jornais, revistas e periódicos.
Nos arraiais da política, encontramos homens que num misto dessa atividade, estiveram sempre vigilantes na defesa da Amazônia, como os governadores Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, Amazonino Armando Mendes, Eduardo Braga, senadores Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro e Jefferson Carpinteiro Péres, além de outros representantes amazonenses de mérito. Mas é preciso prosseguir na luta intelectual, com uma estratégia de guerra, uma união de forças competentes e sábias, para enfrentar a cobiça internacional, contestando-se mentiras, combatendo a invasão progressiva e programada não apenas no aspecto científico, mas usando a tecnologia, o espaço de uma parte da mídia que nem sempre ajuda de forma positiva, divulgando notas e reportagens contra o próprio país como declarações estapafúrdias das autoridades internacionais
Está na hora de um grande Seminário Internacional, sediado na Amazônia, em meio às peculiaridades amazônicas, a fim de que o mundo possa ver na realidade o que somos, o que temos, o que representa a nossa soberania, pois é chegado o momento de arregimentar novos soldado, fazer grassar o patriotismo adormecido nos corações de nossos jovens e formar uma trincheira maior do que a que nos legaram os guerreiros desaparecidos de nosso convívio. Honremos, pois, seus nomes e resgatemos as suas lutas heroicas. Acordar e preciso!
*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas, da Academia Brasileira de ciências Contábeis, da Academia de Letras do Brasil, da Academia de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santo e outros.