O desfile das escolas de samba do grupo especial de Manaus, no sábado (02/03) à noite e domingo (03/03) pela manhã, levou ao Centro de Convenções Professor Gilberto Mestrinho – Sambódromo, zona centro-oeste da cidade, temas como a luta contra o preconceito, busca pela riqueza e pela sorte, homenagens a personalidades do Amazonas e Pará, contados e cantados nos sambas de enredo das oito agremiações que se apresentaram.
O secretário estadual de cultura, Marcos Apolo Muniz, destacou a qualidade dos desfiles e a presença do público. “As escolas apresentaram um carnaval bonito e alegre. E a população prestigiou essa grande festa, aceitando o convite para comparecer ao Sambódromo e, com certeza, não se arrependeu. Tivemos uma folia sem transtornos, com tranquilidade e segurança, fruto de planejamento e organização. Essa é mais uma grande ação do Governo do Estado, gerando trabalho, renda e muita alegria para a população”, afirmou.
O auxiliar de escritório Anderson Neves, 33, levou os filhos, de 7 e 14 anos, para ver a esposa desfilando e elogiou a segurança do evento. “Curti os desfiles tranquilamente com minha família, lembrando as brincadeiras de carnaval de antigamente”, disse.
Primos da Ilha – Nem a chuva do início do desfile atrapalhou a animação da escola de samba Primos da Ilha, que abriu a noite com o enredo “Não queremos aceitação, queremos respeito! Se quer falar de cura, cure seu preconceito”. Já na Comissão de Frente, a agremiação deu seu recado, trazendo uma representação de médicos e pacientes, em clara referência à cura da estupidez cantada no samba da escola.
Tendo como fio condutor o arco-íris, símbolo do movimento LGBTQI+, a escola fez seu protesto de forma irreverente e provocou uma reflexão sobre a temática e sobre as diversas formas de preconceito. Destaque do carro abre alas, Izabel Santana representou a mulher empoderada. “A escola faz um serviço à população com esse desfile. As pessoas estão precisando de um choque de realidade”, observou.
Um dos pontos altos da agremiação, o carro “Tribunais da Internet” chamou atenção para o universo online e a propagação da intolerância pelas redes sociais.
Andanças de Ciganos – Segunda escola a passar pela passarela do samba, a Andanças de Ciganos fez uma viagem pela história, retratando o “Sonho de ser um milionário”, colorindo a avenida de dourado e levando alegorias em referência à importância dada ao dinheiro.
A bateria do mestre Felix Kliger inovou representando a Burguesia Girondina e interagiu com a ala sincronizada, que simbolizava o golpe de Napoleão ao tomar o poder da burguesia.
Finalizando o desfile, a escola mostrou que, com ou sem dinheiro, é possível brincar o carnaval. “Fizemos o melhor. Os nossos brincantes são a nossa riqueza, são o enredo da nossa escola em 2019. Este é o melhor carnaval que já fizemos”, disse o presidente Vilson Gomes Benayon Filho.
Vitória Régia – Em homenagem aos 70 anos do jornal A Crítica, a Vitória Régia apresentou o enredo “Tinta nas veias, a verdade nas mãos: na crítica de Calderaro ‘70 anos’ a voz de uma nação”, que mostrou a trajetória do jornalista Umberto Calderaro Filho até construir o tradicional jornal amazonense.
O desfile marcou também o retorno do intérprete Auzier do Samba à agremiação. “O retorno à minha casa é maravilhoso. Fiquei quatro anos fora, mas a Vitória Régia sempre foi a paixão da minha vida, foi onde eu surgi. Estou voltando para ser campeão”, disse.
Vila da Barra – Evocando a sorte, a Vila da Barra, vice-campeã do Carnaval 2018, entrou na avenida defendendo o enredo “Azul e amarelo são as cores do meu amuleto, emociona vila porque hoje a sorte está o seu lado”.
Para chamar a sorte, a comissão de frente, formada por bailarinos de Manacapuru, vestiu-se de roletas. Já o carro abre-alas chegou com rodas da fortuna alusivas aos períodos de boa e má sorte. Ferradura, pé de coelho, trevo de quatro folhas, joaninhas e olho grego enfeitavam as fantasias e alegorias da agremiação.
Roney Cruz, da diretoria da Vila, afirmou que, apesar do tema, a escola não conta só com a sorte. “Na Vila também contamos com empenho, trabalho e dedicação”, afirmou.
Reino Unido da Liberdade – Em busca do quarto campeonato consecutivo, a Reino Unido da Liberdade fez uma exaltação ao legado cultural deixado pelos povos africanos, com o enredo “Tambores, crenças e costumes afro-brasileiros, a benção Mãe Zulmira”.
A comissão de frente trouxe escravos acorrentados e amordaçados à frente de um tripé que representava o navio negreiro. O quilombo de São Benedito, segundo quilombo urbano do Brasil, localizado no bairro Praça 14, também foi representado pela escola do Morro da Liberdade.
Convidada a cantar o samba nas paradinhas da bateria, a torcida respondeu à altura. Os ícones da cultura negra Zumbi e Mãe Zulmira vieram no último carro, fechando o desfile em grande estilo. “No ano em que a escola celebra 30 anos do primeiro título, pedimos a benção à Mãe Zulmira e acreditamos no título”, disse o presidente Reginei Rodrigues.
Unidos do Alvorada – Com o enredo “All-in – Copag pra ver” na passarela do samba a Alvorada dá as cartas”, a Unidos do Alvorada fez uma homenagem à história do baralho, suas origens, mistérios, lendas e magias. A centenária “Copag” foi a homenageada por ser uma das maiores produtoras de cartas de baralho do mundo, tendo sua matriz no Polo Industrial de Manaus (PIM).
A comissão de frente trouxe bobos da corte que, tendo um módulo alegórico como apoio, faziam trocas de fantasias, transformando-se em personagens do baralho. “Apresentamos o nosso melhor carnaval. Para a nossa comunidade o desfile não é só festa. Temos um trabalho social muito forte e representativo”, comentou o presidente Joacy Castelo, o “Jacaré”.
A Grande Família – Para defender o enredo “Eu só quero ser feliz!”, A escola de samba Grande Família fez uma viagem pelo mundo de Murilo Rayol, personalidade amazonense conhecida pela sua alegria e atuação no samba e na poesia. O homenageado participou da comissão de frente, saindo do módulo de apoio para reverenciar o público.
A escola também mostrou que há possibilidade de encontrar a felicidade de diferentes formas, seja com a disposição dos Doutores da Alegria ou com o encantamento dos bois de Parintins, uma das paixões do homenageado.
Aparecida – A Mocidade Independente de Aparecida fechou o desfile defendendo o enredo “Égua maninho, espia só! Tem açaí, tem tucupi, tem maniçoba. Tem carimbó, Çairé e Siriá. Tem boto, tem Iara, tem marajó… Encantarias de arrepiar. Tem Ver-o-peso, tem rio e mar, e tem Nazinha a abençoar… A Aparecida vem mostrar que aqui também tem Pará!”, uma grande homenagem ao Estado vizinho.
O desfile marcou também uma possível despedida do carnavalesco e atual presidente da escola, Saulo Borges. “Eu quero sair vitorioso. A escola merece esse título”, ressaltou.
A Aparecida deixou o Sambódromo já com os primeiros raios de sol, finalizando um desfile recheado de referências aos rios da região, a nomes da cultura paraense e à religiosidade, com uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré carregada por um drone.