*Gaitano Antonaccio
O empresário Antônio de Andrade Simões nasceu em Manaus, Amazonas, no dia 1º de janeiro de 1924 e faleceu na mesma cidade, a 13 de janeiro de 1992. Seu pai, senhor Clemente Rodrigues Simões viajou para o Amazonas no ano de 1886, vindo de Portugal, quando o fastígio da borracha já se fazia presente no cenário de Manaus, Clemente aportou em Manaus e testemunhou naquele período o que havia de mais belo nas construções de prédios, residências e monumentos erguidos em meio a uma floresta tropical, cercando uma cidade bucólica. Naquela conjuntura histórica surgiram em Manaus a partir de 1880, impulsionadas pelas exportações da borracha, obras monumentais, copiando o estilo art noveau da arquitetura predominante na Europa. Mas, quando terminou o ciclo da borracha, em razão maior da concorrência internacional, a economia do Amazonas entrou em decadência, sobrevivendo durante os anos de 1920 a 1970, do esforço do extrativismo, graças ao empenho de alguns amazonenses, e dos imigrantes portugueses, árabes, italianos, judeus e de outras raças, que permaneceram na luta.
ANTONIO DE ANDRADE SIMÕES E A COCA-COLA NA AMAZÔNIA
Alguns homens nascem predestinados a fazer tudo certo, na conjuntura em que deveriam fazê-lo, no lugar apropriado seguindo a intuição do destino vencedor. São aqueles confiantes nas suas ideias, capazes de realizar os mais difíceis sonhos e possuem talento de sobra para ultrapassar barreiras e vencer obstáculos. Antônio de Andrade Simões decidiu produzir a Coca-Cola na Amazônia, quando este famoso refrigerante já era fabricado em mais de uma centena de países, tornando-se uma preferência mundial. A empreitada exigia audácia, segurança, confiança na competência e no talento de todos os envolvidos. Era o ano de 1970 e os amazonenses estavam deslumbrados com os três primeiros anos da criação da Zona Franca de Manaus, onde desde 1967 havia incentivos fiscais de importação e exportação e o Amazonas aos poucos, voltava a ser o eldorado dos tempos áureos da borracha. Casado com a senhora Walderez de Paula Simões, o casal gerou os filhos: Renato, Juarez, Marcelo, Norma e Célia, todos participes do grande projeto.
Mas, em verdade, havia o certo e o incerto, o esperançoso e o temerário. Ao pensar na produção de um produto festejado, vitorioso no mundo inteiro, como a Coca-Cola, apesar de toda essa realidade, o empresário Antônio de Andrade Simões, sem ter a certeza dos dias de hoje, quando o Polo Industrial de Manaus superou todas as contradições políticas, impondo a sua importância no contexto brasileiro, decidiu empreender na Amazônia. Muitas vezes, confessava que perdia o sono, pela inquietude de sua coragem, mas, tinha uma grande certeza no coração – cumprir o seu objetivo de fazer o que entendia ser correto, com a filosofia de que nunca se deve desanimar do ideal, quando se tem um objetivo a ser alcançado.
Com essa filosofia aliada à sua experiência empresarial já demonstrada com o sucesso de outros empreendimentos, reuniu seus aliados, onde despontavam como grandes lideranças na direção do Grupo, Petrônio Augusto Pinheiro, Osmar Alves Pacífico e outros, e comunicou a ideia à família, recebendo o aval de todos e partiu para a concretização da nova empreitada. Em outubro de 1970, o projeto começou a ser implantado na avenida Constantino Nery, com a ideia de fabricar a Coca-Cola e a Fanta (sabor de laranja). Para cumprir essa nova empreitada surgiu a empresa Indústria de Refrigerantes da Amazônia S. A., empreendimento que veio juntar-se à Papaguara S.A. Massas Alimentícias e outros, tornando o Grupo Simões um dos mais pujantes do Estado do Amazonas, implantado inclusive, em outros estados da Região.
Em verdade, a instalação da fábrica estava favorecida pela nova legislação da Zona Franca, com um elenco de vantagens até então inexistentes na Região, onde havia isenção de impostos federais, estaduais e municipais, além de linhas de financiamento bancário. Tudo havia sido projetado para não permitir retrocessos, os estudos de mercado, a geração de empregos e rendas, o desenvolvimento do Amazonas e o crescimento de seu parque industrial, respondiam ao grande líder, as mais angustiantes perguntas. Naquele tempo, já estavam implantadas, a Sharp do Brasil, a Semp Toshiba, a Beta, fábrica de joias e outras já aportavam no novo eldorado do Norte do Brasil. O desempenho superou as expectativas e já no final de 1970, a produção ultrapassou a casa das quarenta e duas mil caixas de refrigerantes, chegando a dezembro do ano seguinte, com o patamar de quase setenta mil caixas, além de ter sido a primeira em nível nacional, em assistência técnica e controle de qualidade. Despontava a fábrica de Manaus, como a mais importante do país, com uma produtividade espantosa, graças ao equipamento para acelerar a sua produção.
A inauguração oficial ocorreu no dia 7 de novembro de 1970, consolidando a fábrica da Coca-Cola no Amazonas, atraindo personalidades das coirmãs existentes no país, além de diretores da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), da Coca-Cola do Rio de Janeiro, dos Estados Unidos e outras autoridades internacionais. Em verdade, a Coca-Cola no Amazonas nascia com a mesma qualidade de seus concorrentes nacionais e internacionais. Desde os primeiros dias de produção, a Indústria de Refrigerantes da Amazônia S. A. fez o produto chegar aos mais distantes municípios do interior do Estado, e não recuou jamais, diante das dificuldades para servir o povo amazonense, desejoso de conhecer os dois novos refrigerantes produzidos na cidade de Manaus.
Após o falecimento de Antônio Simões, a senhora Walderez e os filhos continuaram no comando das empesas sob a liderança do primogênito Renato de Paula Simões e o Grupo jamais deixou de inovar, criando vários tipos de gestão, uma Governança Corporativa, Conselho de Família, acompanhando a tecnologia e ampliando mercados com venda de veículos e outros negócios. Atualmente, o Grupo Simões continua crescendo e contribuindo para a economia do Amazonas, incluindo novos negócios, como importação, compra e venda de veículos e outros. O empresário e executivo Antonio Carlos da Silva, esposo da filha Norma e atual presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, tem sido presença constante nas ações do Grupo, como sócio, além de um elenco de executivos e assessores competentes. Os filhos Juarez, Norma e Célia integram a administração da Coca-Cola, em conjunto com alguns herdeiros do patriarca. O fato é que, graças ao tirocínio de Antonio Simões, inaugurada com o que existe de mais moderno, foi encravada na misteriosa e longínqua Amazônia, uma das mais importantes fábricas da Coca-Cola do mundo, fruto de uma ideia surgida em Atlanta, Estado da Geórgia, nos Estados Unidos da América, quando em sua residência, numa velha casa localizada na rua Marieta, 107, o pesquisador Dr. John Styth Pemberton, encontrou a fórmula capaz de produzir para o mundo, um dos mais deliciosos refrigerantes até hoje inventado.
*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de Ciências Contábeis; de Letras do Brasil; de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras. ”