CARACAS — O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou, em discurso para milhares de apoiadores em Caracas, que rompeu as relações diplomáticas com a Colômbia e deu ordem para que Bogotá retire seus funcionários diplomáticos do país em até 24 horas. A Colômbia, assim como o Brasil e outros 48 países, reconheceu o líder da Assembleia Nacional, Juán Guaidó, como presidente interino da Venezuela e abriga um dos pontos de partida da ajuda internacional pedida pela oposição.
Desafiando a pressão da comunidade internacional para deixar o poder, Maduro chamou o presidente da Colômbia, Iván Duque, de “o diabo em pessoa”, afirmando que ele “vai se arrepender por se meter com a Venezuela”.
— Decidi romper todas as relações políticas e diplomáticas com o governo fascista da Colômbia e todos os seus embaixadores e cônsules devem sair em 24 horas da Venezuela. Fora daqui, oligarquia! — alertou, diante de milhares de seguidores.
O chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, disse que embora Bogotá desconheça o “governo usurpador” de Maduro, ordenou o regresso dos funcionários diplomáticos. Trujillo agradeceu o convite de Guaidó para que os funcionários colombianos permanecessem em Caracas, mas disse que preferiu “priorizar suas integridades físicas e vidas”.
Esta não é a primeira vez que a Venezuela corta relações diplomáticas com a Colômbia. Em 2010, o então presidente Hugo Chávez tomou a medida após Bogotá acusá-lo, na Organização dos Estados Americanos, de abrigar membros da guerrilha colombiana. À época, Maduro era ministro de Relações Exteriores do governo chavista. As relações foram reatadas um mês depois, mas as relações entre os dois países continuaram turbulentas. Em 2018, Maduro chegou a acusar a oposição venezuelana e o governo colombiano por um atentado com a explosão de dois drones quando ele assistia a uma parada militar em Caracas.
Durante o discurso, Maduro também recusou a ajuda humanitária oferecida por países que apoiam o autoproclamado presidente interino. Aos militantes chavistas, afirmou que está disposto a pagar por alimentos e mantimentos básicos, e, se dirigindo ao Brasil, citou o estado de Roraima e afirmou:
— Estamos dispostos a comprar todo o açúcar, leite em pó e carne que queiram vender. Não somos maus pagadores nem mendigos. Querem trazer caminhão com leite e pó? Eu pago agora. Já, amanhã! — disse.
Para o presidente venezuelano, a ajuda humanitária é um pretexto para uma tentativa de golpe de Estado da oposição, que seria patrocinada por Washington.
— Estou mais firme do que nunca, mais firme do que esta madeira (do palanque), governando esta pátria — assegurou Maduro, lembrando que o presidente americano, Donald Trump, está construindo um muro na fronteira com o México, em uma demonstração de que “não gosta da América Latina”.
Maduro afirmou que a comida que faz parte da ajuda estava estragada e que sua ingestão já havia matado duas pessoas.
O presidente também não demonstrou abalo diante do rompimento de mais de 20 militares e policiais com o seu regime, aderindo à aliança de Guaidó.
— Estou orgulhoso dos militares, de seu profissionalismo, de sua capacidade operativa, de sua subordinação e obediência e lealdade absoluta.
Fonte: O Globo