Gaitano Antonaccio*
Depois desse relativo sucesso, começaram a surgir algumas influências políticas, e, infelizmente, os japoneses começaram a sofrer represálias, perseguições, apesar da ajuda de alguns congressistas, como os deputados Felix Valois Coelho, Vivaldo Palma Lima e Leopoldo Tavares da Cunha Mello, mas não foi possível prosseguir na luta contra o governador e interventor Álvaro Botelho Maia, do senador Antóvila Mourão Vieira, que no fundo, entendiam que os japoneses representavam na época, década de 1940, o famoso perigo amarelo, posto que os mesmos haviam entrado na Guerra, ao lado dos alemães.
Os primeiros imigrantes chegados ao Amazonas em 1929, vieram com o aval da Companhia Nipônica de Plantação (Nantaku), que já possuía uma gleba de terras na região, onde fundaram seguidamente, em 1935, a Cooperativa Agrícola do Acará, que praticamente desapareceu quando o Brasil entrou na guerra, no governo Vargas, em 1940.
Antes desse fato, em 1936, o senador amazonense Antóvila Rodrigues Mourão Vieira já havia conseguido no Parlamento, por unanimidade, o cancelamento das terras cedidas para os nipônicos e, em 1937, surgiu uma Lei do Estado do Amazonas, proibindo definitivamente a concessão de terras aos japoneses. Erro histórico por falta de conhecimento, que mais uma vez se apresenta como influência maléfica no interesse de alguns políticos
Por causa da proibição na concessão de terras no Amazonas, a Escola Nipônica Científica de Plantação encerrou suas atividades em 1937, apesar de ter enviado para o Amazonas sete caravanas de estudantes kutakusseis.
Mas, a despeito de tantas vicissitudes a produção de juta em Parintins continuou crescendo, alcançando 60 toneladas em 1938. Os amazonenses festejavam o fato como uma vingança contra os asiáticos que levaram as sementes da hevea para produzir borracha naquela região, provocando o fracasso da mesma na Amazônia, mas em compensação a juta trazida da Índia, floresceu na Região e provocava o crescimento e desenvolvimento.
Em 1941, com a adesão do Japão à Guerra Mundial, atacando de surpresa a base americana de Pearl Harbour, no Havaí, a crise com o Brasil aumentou e em 1942, o presidente Getúlio Vargas declarou guerra ao Japão, juntamente com a Itália e Alemanha. Os japoneses tornaram-se inimigos do Brasil e os que estavam dirigindo a Companhia Industrial Amazonense fundada por eles, foram presos, e levados para a colônia Tomé-Açu, no Estado do Pará, e os bens da empresa foram todos confiscados. O controle acionário da Companhia passou para as empresas do comendador Joaquim Gonçalves de Araújo, que assumiu toda a infraestrutura arrematada em leilão público. Os japoneses que ficaram no Amazonas, depois de Guerra passaram a se dedicar a plantações de produtos no interior, tais como pimenta-do-reino, mandioca, hortaliças o que ainda hoje acontece com a permanência da Colônia Japonesa no Amazonas.
Hoje, com a implantação do Polo Industrial de Manaus, foram muitas as famílias japonesas que se radicaram no Amazonas, além de muitos executivos das fábricas do Distrito Industrial, que constituíram suas famílias em Manaus, casando com amazonenses, vivendo num clima de harmonia muito distante das épocas beligerantes da década de 1941.
Com o andamento da Guerra, o Brasil imediatamente cortou relações diplomáticas com os países do chamado Eixo, em 1942. Em consequência desse rompimento o governo do presidente Vargas começou a perseguir uma grande parcela da população brasileira, onde houvessem imigrantes japoneses, alemães, italianos e seu descendentes. O país entrou no regime conhecido, como “guerra é guerra! ” Parte desses imigrantes em seguida, passou a ser enclausurada e enviada para 11 campos de concentração localizados em várias partes do pais, com a finalidade de evitar que os mesmos atuassem infiltrados em favor de seus países, colocando em perigo a soberania nacional.
Um desses campos estava localizado exatamente na região de Tomé-Açu e era o único da Região Amazônica, destacando sua atuação concentrada contra os imigrantes japoneses, que passaram a viver sob rígidas regras de comportamento. Foi implantado um regime de racionamento de energia, toque de recolher mais cedo, suas correspondências eram censuradas e eles jamais poderiam se reunir em grupos. Vale acrescentar que até 1942, quando mais se incrementou a Segunda Guerra Mundial, a colônia japonesa, que até então vivia em harmonia com os brasileiros, habitava às margens do rio Acará, a 200 quilômetros de Belém, que se transformou em seguida, no município de Tomé-Açu. Lá em Tomé-Açu eles cultivavam arroz e hortaliças. E, exatamente, no dia 17 de abril de 1942, os japoneses perderam o direito aos seus bens, por meio de uma Declaração de Caducidade, isolando-se a vila do rio Acará.
Vivendo, pois, confinada pela floresta amazônica, cujo acesso era todo por via fluvial, os imigrantes japoneses, que se agasalhavam em torno da Companhia Nantaku e da Cooperativa era uma candidata ideal para sediar um desses campos.
Afirmando que o Brasil foi pressionado pelas relações externas com os países aliados, passando a fazer ações de contenção dos chamados inimigos de guerra, a professora Priscila Perazzo, pesquisadora da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, escreveu um livro intitulado Prisioneiros de Guerra: os súditos do Eixo, nos campos de concentração brasileiros.
Mas, em verdade, a Guerra, malgrado ter estremecido as relações com o Brasil, jamais permitiu que os dois países se tornassem de fato, desafetos ou inimigos, e hoje a colônia japonesa do Amazonas é uma realidade de convívio amistoso, contribuindo para o nosso crescimento e desenvolvimento, em paz e harmonia. São muitos os tipos de parcerias que existem entre Brasil e Japão.
*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de ciências Contábeis; de Letras do Brasil; de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras. ”