Um mês depois de despencar na produção, a indústria amazonense voltou ao topo do ranking nacional do setor. O Estado obteve o maior índice de crescimento do país, entre julho e agosto, na contramão da média nacional. É o que mostra a pesquisa mensal do IBGE para a atividade, divulgada nesta sexta (8). O desempenho manteve os acumulados no campo positivo, mas não foi suficiente para superar o dado do mesmo mês do ano passado – quando a manufatura local já surfava na onda da demanda reprimida. Apenas quatro dos nove subsetores pesquisados no Amazonas avançaram nessa comparação.
A produção industrial do Estado avançou 7,3%, na passagem de julho para agosto, em desempenho oposto ao do mês anterior (-13,2%). O decréscimo, no entanto, se manteve no confronto com agosto de 2020 (-1,5%), quando a indústria amazonense já deixava os impactos da primeira onda para trás. Com isso, conseguiu permanecer no azul nas comparações dos aglutinados do ano (+17,1%) e dos 12 últimos meses (+14,4%). O resultado também permitiu ao Amazonas (+1%) figurar entre as seis unidades federativas com índices acima do patamar pré-pandemia – com destaque para Santa Catarina (+4,9%).
Ao contrário do ocorrido no levantamento anterior, o resultado do Amazonas na variação mensal (+7,3%) foi significativamente melhor do que o da combalida média nacional (-0,7%). O Estado registrou o melhor resultado do país, sendo seguido por Pará (+7,1%) e Santa Catarina (+1,9%), no ranking nacional do IBGE, que analisa mensalmente as indústrias de 14 unidades federativas. Na outra ponta, Pernambuco (-12%), Espírito Santo (-3,7%) e Mato Grosso (-2,3%) lideraram a lista com seis resultados negativos e uma estabilidade.
O decréscimo de 1,5% registrado na variação anual de agosto fez o Estado ficar atrás da média brasileira (-0,7%) nesse tipo de comparação e cair da quarta para a sétima posição, empatando com o Rio Grande do Sul. O pódio foi dividido por Paraná (+8,7%), Minas Gerais (+6,5%) e Espírito Santo (+6%). Em contraste, Bahia (-13,8%), Pernambuco (-13,5%) e Pará (-6,2%) amargaram as últimas posições, em um rol com sete desempenhos negativos.
No acumulado dos oito primeiros meses do ano (+17,1%), a performance do setor fez o Amazonas sair da terceira colocação para retomar a vice-liderança do ranking brasileiro, além de corresponder a praticamente o dobro da média nacional (+9,2%). Perdeu apenas para Santa Catarina (+20,5%), ficando à frente do Ceará (+16,3%). Em contrapartida, Bahia (-14,8%), Mato Grosso (-4,7%) e Goiás (-3,8%) amargaram as retrações mais acentuadas, em uma lista que incluiu apenas quatro desempenhos negativos.
Borracha e plástico
Na comparação com agosto de 2020, a indústria extrativa (óleo bruto de petróleo) retornou ao campo negativo (-4,1%), quebrando uma sequência de três meses de alta. A indústria de transformação também tropeçou (-1,4%), após a retração mais vitaminada do mês anterior (-8,5%). Só quatro de seus nove segmentos investigados pelo IBGE se seguraram no azul: produtos de borracha e material plástico (+36,5%), máquinas e equipamentos (condicionadores de ar e terminais bancários, com +27,1%) “outros equipamentos de transportes” (motocicletas e suas peças, com +23,2%), e bebidas (+7,8%).
O pior número veio novamente do subsetor de impressão e reprodução de gravações (DVDs e discos, com -72,4%). Foi seguido de longe pelas divisões de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (celulares, computadores e máquinas digitais, com -16,1%), derivados de petróleo e combustíveis (-13,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (conversores, alarmes, condutores e baterias, com -,4,2%) e produtos de metal (lâminas, aparelhos de barbear, estruturas de ferro, com -4,2%).
A comparação do acumulado dos oito meses iniciais do ano com igual acumulado de 2020 ainda aponta um quadro positivo para o setor no Amazonas: apenas indústria extrativa (-1,6%) e a divisão de impressão e reprodução de gravações (-69,7%) seguem em queda. Os melhores desempenhos vieram de borracha e material plástico (+56%), máquinas e equipamentos (+54,6%), “outros equipamentos de transporte” (+44,8%), bebidas (+21,6%), derivados de petróleo e combustíveis (+18,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+16,7%), produtos de metal (+10,8%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos subiram (+2,1%).
Panorama turvo
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, concorda que os números trazem boas notícias para a indústria do Amazonas, mas salienta que o horizonte de curto prazo ainda é turvo para a atividade. Especialmente quando se leva em conta que a média móvel trimestral da manufatura amazonense está em “praticamente zero” (-0,4%), fator que não possibilitaria segurança para cenários futuros.
“O indicador mês a mês foi muito bom, depois de uma queda brusca em julho. Mas, na comparação com o mesmo mês do ano passado, a queda ainda persiste. Mesmo assim, o acumulado do ano está bem alto. A boa notícia é que as atividades industriais focadas na produção de bens permanentes, como computador, motocicleta e ar-condicionado, tiveram bom desempenho em suas plantas. Isso melhora a perspectiva para a próxima divulgação”, ponderou.
Texto postado na Agência de Notícias IBGE destaca que, o resultado de agosto recupera parte da queda sofrida pela indústria amazonense, em julho (-13,2%), graças ao “bom desempenho” de bebidas e “outros equipamentos de transportes”. No mesmo texto, o analista da pesquisa, Bernardo Almeida, explica que os custos de matéria-prima e os casos pontuais de desabastecimento oferecem obstáculos ao crescimento do setor em todo o país. “Há também uma diminuição no consumo, com inflação crescente, o que contribuí para diminuir o poder de compra das famílias. Tudo isso impacta na cadeia produtiva, afetando a tomada de decisão de produtores e consumidores”, analisou.
“Indústria resiliente”
Diante do resultado mensal de agosto, o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, destacou a resiliência do segmento industrial amazonense, mesmo diante das “muitas adversidades” que surgiram no caminho, após a eclosão da primeira onda da pandemia. No entendimento do dirigente, o setor tem se mostrado sólido ao longo do ano, e o decréscimo anual pode ser explicado, pelo menos em parte, pela base de comparação mais forte. Da mesma forma estima que a sazonalidade positiva deve se impor aos entraves.
“O mês de agosto de 2020 representou um aumento exponencial, pois congregou toda a produção represada nos primeiros meses da pandemia de covid-19, que solapou vertiginosamente à atividade produtiva. Mas, a inflação, o encarecimento do crédito e a escassez de insumos ainda são fatores de preocupação que podem implicar em oscilação ao longo dos próximos meses. Os números globais, contudo, são positivos e denotam um momento de retomada”, finalizou.
Fonte Jornal do Commercio