CARACAS – A entrada da ajuda humanitária na Venezuela se tornou parte crucial da luta entre Juan Guaidó e Nicolás Maduro. Ainda falta uma semana para 23 de fevereiro, o dia escolhido que as remessas de remédios e alimentos enviados pelos Estados Unidos comecem a chegar através da fronteira colombiana. Mas o presidente da Assembleia Nacional — Guaidó — já colocou em prática um plano que procura envolver diretamente centenas de milhares de voluntários para proteger essas entregas, garantir a chegada de produtos que, ele insiste, são urgentes para mais de 300 mil pessoas que estão em risco de morte. Assim, ele pretende ganhar, de quebra, uma batalha política decisiva.
O político que desafiou o sucessor de Hugo Chávez, proclamando-se em janeiro como presidente interino da Venezuela, fez uma espécie de juramente sobre esse assunto no último sábado, dia 16. Ele jurou diante de milhares de seguidores no estacionamento do jornal “El Nacional”, no nordeste de Caracas. Guaidó prometeu “fazer o que é necessário introduzir esta ajuda” e convidou o público que o assistia a ficar de pé e repetir suas palavras:
— Digamos com força: nós, voluntários, juramos defender a Constituição, firmarmos compromisso com a ajuda humanitária e com a distribuição dessa ajuda — exclamou.
A mobilização convocada para o próximo sábado, 23, não se concentrará apenas na fronteira, mas em todo o país. Guaidó assegurou que já existem 600 mil pessoas que aderiram à iniciativa, embora o seu objetivo seja uma exposição de força ainda maior. A tarefa que ele transmitiu a seus seguidores é precisa:
— Vamos nos organizar em brigadas humanitárias e chegar a um milhão de voluntários cadastrados. As brigadas humanitárias serão a representação de seus Estados em cada uma das fronteiras por onde virá a ajuda — disse o presidente interino.
Maduro põe mais soldados na fronteira
A oposição busca aliviar a emergência humanitária que a Venezuela sofre com remédios e suplementos nutricionais direcionados, em uma primeira fase, a crianças menores de 3 anos e a mulheres grávidas em extrema pobreza.
No entanto, o governo nega que haja uma crise dessas características e rejeita categoricamente a entrada da ajuda, considerando-a uma interferência externa liderada pelo governo Donald Trump, nos EUA, e um primeiro passo para abrir o caminho para uma intervenção militar.
Maduro aumentou a mobilização das Forças Armadas na fronteira entre as cidades de San Antonio del Táchira e Cúcuta, onde se espera que as primeiras cargas cheguem, e ordenou que os soldados estejam preparados para defender o território nacional.
Esperada vitória dentro do próprio país
“Cessação da usurpação, governo de transição e eleições livres”. Este é o mantra da oposição. Para conseguir isso, no entanto, o apoio internacional — praticamente unânime — não é suficiente. Por isso, os líderes opositores tentam obter uma vitória concreta dentro da própria Venezuela. O sucesso do canal de ajuda humanitário tem também essa função.
— A mudança é irreversível — destacou Guaidó, durante seu juramento de sábado.
O líder da oposição quer se concentrar agora, com especial atenção, na organização dessa ajuda humanitária e pediu aos voluntários que divulguem as mensagens oficiais sobre o assunto e que não percam as concentrações que serão feitas em todo o país no dia 23.
Fonte: O Globo