MADRI — O primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, convocou novas eleições nesta sexta-feira, dois dias depois de sua proposta de Orçamento para 2019 ser derrotada no Parlamento por uma aliança entre os partidos de direita — PP (Partido Popular) e Cidadãos — e os independentistas catalães. O novo pleito, marcado para 28 de abril, será o quarto em oito anos, e, segundo pesquisas, deve favorecer a formação de uma maioria parlamentar conservadora.
— Anuncio a todos que propus a dissolução das Câmaras e a convocação de eleições gerais para 28 de abril. Não é possível governar sem Orçamento. Entre não fazer nada e chamar os espanhóis a decidirem, escolhi a segunda opção. A Espanha precisa continuar avançando, progredindo com tolerância — disse Sánchez em um discurso televisionado, que foi considerado o pontapé inicial na campanha eleitoral. — A Espanha é de seus cidadãos. Eles e elas devem decidir se dão um passo atrás.
Com seu partido, o Psoe (Partido Socialista Operário Espanhol), controlando apenas 84 das 350 cadeiras do Parlamento espanhol, Sánchez assumiu a chefia do governo em junho de 2018. Na época, o Psoe, o Podemos, de esquerda, e agremiações nacionalistas das regiões espanholas se uniram para aprovar uma moção de desconfiança contra o então premier Mariano Rajoy, do PP, envolvido em escândalos de corrupção. Desde então, o socialista dependia dessa frágil coalizão informal, que se desfez quando perdeu os votos das legendas separatistas catalãs.
O atual Congresso foi eleito em junho de 2016 e será a legislatura mais curta desde a redemocratização espanhola, em 1975. A formação de governos estáveis na Espanha tem sido dificultada pela fragmentação do sistema político, ocorrida depois dos grandes protestos contra a austeridade imposta no país na crise financeira de 2008. Dois novos partidos nacionais surgiram durante as manifestações, o Podemos e o Cidadãos. Com isso, o Parlamento deixou de ser dominado pelo Psoe e o PP, os dois partidos que até então se revezavam no poder.
No pronunciamento pela TV, Sánchez avaliou seus oito meses de governo. Destacou o aumento do salário mínimo e das aposentadorias e afirmou que, no período, a Espanha recuperou seu prestígio na Europa. Disse também ter posto fim a uma administração antes “assediada pela corrupção” — o partido do seu antecessor, Rajoy, foi alvo de investigações de financiamento ilegal de campanhas políticas.
Sánchez atacou os partidos de direita, acusando-os de bloquear a aprovação do Orçamento e outras propostas do seu governo, “usando as instituições com interesses partidários”.
— Sempre que os socialistas chegam ao poder dizem que traímos a pátria e eles a garantem, mas a declaração de independência da Catalunha e os dois referendos foram feitos com eles no governo — disse, referindo-se à incapacidade de Rajoy de negociar com os nacionalistas catalães.
O primeiro-ministro negou que estivesse desencantado com os independentistas que se recusaram a aprovar o Orçamento, exigindo que em troca o governo negociasse a realização de um referendo de autodeterminação da Catalunha.
— O independentismo sempre soube a posição do governo — disse Sánchez, que defendeu haver no Orçamento derrubado, inclusive, uma “resposta social” para a Catalunha. — Há vias para resolver esta crise.
Na semana passada, Sánchez tentou criar pontes com os separatistas ao propôr a indicação de um relator especial para negociações políticas em torno do pleito de independência da Catalunha. A iniciativa acabou rejeitada pelos independentistas e também criticada pelas forças da direita, que classificaram o gesto como uma traição.
O PP, por sua vez, festejou a convocação de eleições.
— Derrubamos o governo de Sánchez — disse Pablo Casado, líder da legenda. — Só o Partido Popular pode fazer frente ao desafio independentista e esse será o tema das eleições — completou, prometendo baixar “todos os impostos” se chegar ao poder.
O que dizem pesquisas
De acordo com as pesquisas mais recentes, as eleições de abril devem favorecer a direita. Levantamento Celeste-Tel publicado no dia 12 pelo jornal espanhol El Diário aponta que os partidos de direita têm, somados, 51,2% das intenções de voto, frente a 39,5% de Psoe e Podemos juntos.
Em dezembro, pela primeira vez em 36 anos, uma força de ultradireita obteve representação parlamentar na Espanha. A agremiação Vox conquistou 12 cadeiras no Parlamento regional da Andaluzia, até então um tradicional reduto dos socialistas. Agora, a pesquisa do El Diário situa a legenda com 8,9% das intenções de voto nacionais — o que significaria de 17 a 20 cadeiras no Parlamento.
A pesquisa do El Diario projeta o Psoe e o PP empatados em 23%, e o Cidadãos com 19,2%. O Podemos perdeu força por causa de divergências internas e hoje goza de 14% das intenções de voto.
Um somatório de pesquisas, citado pelo Financial Times, aponta para o mesmo resultado, com números um pouco diferentes: o Psoe com 24% das intenções de voto, o PP com 21%, o Cidadãos com 19% e o Podemos com os mesmos 14%. Nessa amostragem, o Vox teria 11% das intenções de voto.
As forças nacionalistas e regionais não são eixos do sistema político-partidário, mas, com a fragmentação das bancadas parlamentares principais, podem inclinar a balança para a formação de coalizões de governo de direita ou de esquerda.
Fonte: O Globo