CARACAS — Pressionado por parte da comunidade internacional a admitir eleições livres no país, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, rejeitou a ideia de um novo pleito presidencial e provocou a oposição, ao afirmar que é favorável a eleições antecipadas para o Legislativo e a um diálogo para superar a crise política na Venezuela.
A Assembleia Nacional venezuelana, hoje presidida pelo autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, tem maioria opositora desde 2015. Em 2017, Maduro convocou uma Assembleia Nacional Constituinte para anular a autoridade do Parlamento, cujas próximas eleições são previstas para 2020.
— Seria muito bom organizar eleições legislativas antes, seria uma boa forma de discussão política, uma boa solução através do voto popular — declarou Maduro, em entrevista à agência de notícia russa RIA Novosti, sobre adiantar o pleito.
Maduro disse ainda que está “disposto a discutir pessoalmente com Donald Trump, em público, nos Estados Unidos, na Venezuela, onde quiser, com qualquer programa” de debate. Washington lidera uma frente de 19 países, incluindo o Brasil, que reconhecem o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.
Já o segundo mandato de Maduro, para o qual ele tomou posse em 10 de janeiro, é considerado ilegítimo por mais de 40 países, dada a falta de condições para uma competição livre no pleito em que ele foi reeleito, em maio de 2018. No últimi sábado, cinco países europeus pediram que Maduro aceitasse a convocação de eleições. Eles deram um prazo de oito dias para reconhecer Guaidó como presidente interino, caso isso não ocorra. O ex-presidente uruguaio José Mujica disse que a saída para o impasse venezuelano é a realização de eleições gerais sob supervisão da ONU.
— Eu ganhei legitimamente — disse Maduro. Se os imperialistas querem uma nova eleição, que esperem até 2025.
Maduro expressou reconhecimento ao presidente russo, Vladimir Putin, que apoia o governo venezuelano. Na segunda-feira, os Estados Unidos anunciaram sanções econômicas contra a estatal petroleira PDVSA, fonte de 70% das receitas de Caracas, e congelaram contas e ativos venezuelanos no sistema financeiro americano, cujo controle foi entregue a a Guaidó. O governo respondeu com a abertura de uma investigação contra o líder opositor, que foi impedido de deixar o país.
O líder bolivariano destacou que, apesar da nova pressão econômica, continuará a pagar suas dívidas pontualmente à China e à Rússia, seus principais credores e aliados na crise.
— A Venezuela paga, sempre no prazo — ressaltou.
Na visão do venezuelano, um encontro com o presidente americano é “complicado atualmente” porque o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, “proibiu Trump de iniciar o diálogo”. Na entrevista, Maduro acusou o chefe da Casa Branca, sem apresentar provas, de mandar a Colômbia assassiná-lo.
— Donald Trump com certeza deu a ordem de me matar e falou para o governo e a máfia da Colômbia me matarem — ressaltou Maduro.
Bogotá e Washington negam que haja complô neste sentido e avaliam que o líder venezuelano usa a retórica para lançar uma cortina de fumaça quando tem o poder ameaçado. A especulação sobre uma investida militar contra o regime da Venezuela cresceu depois que Bolton apareceu em coletiva de imprensa com um caderno em que era possível ler a anotação “5.000 soldados para a Colômbia”.
O líder bolivariano reiterou na entrevista que “as eleições presidenciais aconteceram há menos de um ano”. O pleito foi marcado por abstenção de 54%, boicote da oposição e denúncias de fraude.
— Não aceitamos ultimatos de ninguém no mundo, não aceitamos a chantagem. As eleições presidenciais aconteceram na Venezuela e, se os imperialistas querem novas eleições, que esperem até 2025 — completou Maduro.
Questionado sobre uma possível mediação internacional, o presidente venezuelano afirmou que há “vários governos e organizações no mundo sinceramente preocupados” e que deseja que “apoiem o diálogo” com a oposição. México e Uruguai propuseram novas negociações, com as quais o líder de Caracas já havia concordado.
— Estou disposto a comparecer à mesa de negociações com a oposição, para falar sobre o bem da Venezuela, pela paz e seu futuro — declarou Maduro à RIA Novosti.
Na semana passada, Guaidó disse que Maduro vê o diálogo como forma de ganhar tempo e que concordaria em conversar se fosse para discutir a transição para um regime democrático. Nesta quarta-feira, a Rússia apelou ao opositor venezuelano para desistir da demanda de eleições e aceitar a mediação.
Nesta quarta, Guaidó informou no Twitter ter recebido uma chamada do americano Trump, que segundo ele apoiou seu “trabalho democrático” e reafirmou o compromisso com o envio de ajuda humanitária para a Venezuela.
Fonte: O Globo