BRASÍLIA — Em uma linguagem inédita na diplomacia brasileira, o Itamaraty acusou o governo de Nicolás Maduro de terrorismo, narcotráfico, corrupção e lavagem de dinheiro em nota divulgada na noite desta quinta-feira, depois de mais de 11 horas de reuniões com dirigentes da oposição venezuelana. Até recentemente, o Brasil só chamava de terrorista grupos assim classificados pelas Nações Unidas, como a al-Qaeda.
“O sistema chefiado por Nicolás Maduro constituiu um mecanismo de crime organizado. Está baseado na corrupção generalizada, no narcotráfico, no tráfico de pessoas, na lavagem de dinheiro e no terrorismo”, diz um trecho da nota.
Além disso, durante as conversas, o Brasil deu sinais de que apoiará um eventual governo de transição na Venezuela, presidido por Juan Guaidó, atual dirigente da Assembleia Nacional daquele país. Esse apoio, porém, não ficou claro na declaração divulgada pelo Itamaraty.
Durante o encontro — que teve a participação de representantes do Grupo de Lima (bloco político composto por 14 países do continente) e do governo americano —, os líderes de algumas das principais forças políticas da oposição na Venezuela informaram que, hoje, 300 mil pessoas correm o risco de morrer de fome naquele país, mais de 100 mil recém-nascidos perdem a vida anualmente e o déficit de medicamentos para atender a população é de 85%. Os opositores enfatizaram que Maduro está à frente de um “genocídio silencioso contra seu próprio povo”.
“O Brasil tudo fará para ajudar o povo venezuelano a voltar a viver em liberdade e a superar a catástrofe humanitária que hoje atravessa”, diz o comunicado, reiterando a posição brasileira de que o governo de Maduro é ilegítimo.
A reunião foi cercada de sigilo. Os participantes não puderam entrar com celular. No início da tarde, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, interrompeu as discussões e levou Gustavo Cinosi, assessor da Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), e Miguel Angel Martín, presidente do Tribunal Supremo da Venezuela no exílio, para uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto. Em seguida, voltaram ao Itamaraty para retomarem os debates.
Os opositores ao regime de Maduro também pediram que os países do Grupo de Lima adotem logo as sanções aprovadas em reunião no último dia 4 de janeiro, para estrangular financeiramente a administração de Maduro. Entre as medidas estariam o bloqueio de ativos das autoridades.
— Não são sanções contra a Venezuela. São sanções contra funcionários de um governo que saqueou o Tesouro público — – afirmou Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas exilado em Madri.
O ex-presidente da Assembleia Nacional Julio Borges, exilado na Colômbia, disse que não existe a intenção de pedir intervenção militar aos países do Grupo de Lima. Brincou dizendo que já existem muitos militares cubanos em seu país e ressaltou que a ideia é forçar a saída de Maduro.
— Pedimos ao presidente Bolsonaro para pressionar e castigar Nicolás Maduro, que é um presidente que já caiu, que está derrotado e sem legitimidade — afirmou Borges.
Fonte: O Globo