Intuito é que município intensifique trabalho que está sendo realizado para que a população tenha retorno no tempo apropriado
O arrastar das tábuas, as batidas de martelo e o lixo flutuando à beira da porta evidenciam o ritmo acelerado da subida dos rios e a preocupação de moradores que tentam minimizar os impactos da cheia em Manaus. O trabalho é para construir pontes que permitam o acesso às moradias e, principalmente, marombas – piso elevado – para que a população possa continuar nas residências, uma vez que a maioria não tem para onde ir.
Em função desse cenário, a Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) vai recomendar à Prefeitura de Manaus que acelere o processo de construção de pontes e viabilize a concessão de auxílio-aluguel o mais breve possível. Nesta sexta-feira (7), a DPE-AM esteve novamente nas comunidades Bariri, no bairro Presidente Vargas, Bairro do Céu e Beco dos Barés, no Centro, e becos Manoel Urbano 1 e 2, no Educandos, todos na Zona Sul, onde ouviu moradores que estão com as casas submersas e as necessidade de cada um.
“Há uma semana estivemos nesse locais e a água estava prestes a atingir as casas. Hoje, as residências estão debaixo d’agua e as famílias sem ter para onde ir e precisando de ajuda. Algumas, com o auxílio de vizinhos, construíram marombas, e convivem com o risco de cair na água dentro da própria casa. Temos observado o agravamento da enchente a cada dia de tal sorte que precisamos acelerar também o ritmo de resposta. Precisamos ajudar o povo que vem sofrendo com a cheia em Manaus e vamos recomendar ao município para que continue o trabalho que está desenvolvendo, mas que acelere esse ritmo. Caso contrário, a população não terá o retorno que precisa no tempo apropriado”, explicou o subdefensor geral do Estado, Thiago Rosas, e membro do Núcleo de Moradia e Fundiário (Numaf).
A ação da Defensoria ocorreu em continuidade às visitas da instituição em áreas afetadas pela cheia dos rios. Como parte deste trabalho, a Defensoria já visitou bairros da Zonas Leste e Oeste da capital.
A situação mais grave é enfrentada por moradores dos becos Manoel Urbano 1 e 2, no Educandos. A casa onde a dona de casa Elen Cristine Gomes, 28, mora com os filhos e o esposo é uma das mais afetadas. Uma maromba improvisada com poucas tábuas permite que ela caminhe agachada na residência, mas representa risco de afogamento para as crianças.
“Meu esposo não teve dinheiro para comprar madeira suficiente. Por isso, só uma parte da casa tem maromba. Tenho medo pelos meus filhos”, registrou. A realidade dela é a mesma de outros moradores da área que, sem condições, construíram pontes dentro das casas, ao invés de marombas. “Moro aqui há quatro meses, mas não sei mais o que fazer. Nunca pensei que passaria por isso. Ando dentro de casa com a cabeça abaixada para não encostar no teto. Meu marido é deficiente visual e meus filhos por pouco ainda não caíram na água. Só por Deus algo pior não aconteceu. Precisamos de ajuda o quanto antes”, desabafou a dona de casa Elcione Mafra, 45.
Participaram da ação o subdefensor, Thiago Rosas, a defensora pública Dâmea Mourão, coordenadora do Numaf, e os defensores Christiano Costa, coordenador do Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon), e Ali Assaad, que atua na Defensoria Pública Especializada de Atendimento ao Idoso.
Zap da Enchente
Os defensores conversaram com as famílias que residem no local e constataram a necessidade de construir de pontes, assim como da presença mais contundente dos órgãos ambientais. Segunda a defensora Dâmea Mourão, a visita no bairro Presidente Vargas foi motivada em virtude de uma mensagem enviada para o ‘Zap da Enchente’.
“Um morador desta área relatou por meio de um vídeo as dificuldades enfrentadas. Hoje estamos aqui para presenciar a situação da comunidade e a Defensoria constatou a necessidade urgente de construção de pontes, bem como a atuação dos órgãos ambientais para minimizar as consequências negativas já identificadas, como a presença de animais que podem ser perigosos para saúde e vida da população. Nós já estamos enviando ofício à Defesa Civil e aos órgãos ambientais”, relatou.
Dâmea ressaltou que a Defensoria se coloca à disposição da população através do ‘Zap da Enchente’, o novo canal de comunicação criado pela Defensoria para ouvir a população.
No “Zap da Enchente” o cidadão pode mostrar como está sendo impactado pela cheia, de modo que a Defensoria consiga cobrar providências do Poder Público. Através do número de WhatsApp (92) 98431-7941, as pessoas podem gravar um vídeo de 30 segundos a 1 minuto, mostrando os transtornos causados pela cheia. No vídeo, a pessoa deve se apresentar, dizendo nome e o local onde está gravando o material. Além das imagens em vídeo, é importante enviar uma foto da Carteira de Identidade (RG).
Fotos: Florêncio Mesquita/DPE-AM