Covid-19: governo e cidadãos ‘brincam de roleta-russa’ no Amazonas

“É uma angústia física, porque a doença lhe tira a energia, mas também é uma angústia psicológica pela incerteza de como a doença vai evoluir”. Essas são as palavras de Fábio Vilas-Boas, secretário de saúde da Bahia, em entrevista ao jornal Correio. (ver matéria)

 

– “é uma roleta-russa”.

 

Exatamente isso! Um jogo de roleta-russa é o que parece a ação do governador do Amazonas e da população quando o tema é a crise da saúde causada pela Covid-19.

Consultamos o pesquisador da Fiocruz, Jesem Orellana, mestre em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz e doutorando em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas sobre as ações tomadas pelo governo estadual e pela população a partir do dia 22 de fevereiro, quando Manaus saia da faixa roxa para a vermelha e o interior entrava na faixa roxa.

Entre um dos fatos questionados falamos sobre as taxas de contaminação que vem apresentando queda nos índices. Índices esses, que basearam a última flexibilização das atividades comerciais, a pesar da restrição que a faixa vermelha recomenda.

O que pudemos apurar é que, mesmo com os índices baixando, a população corre perigo com a nova flexibilização e a falsa sensação de que tudo está bem. O estado pode ser surpreendidos por mais uma forte onda como aconteceu no início deste ano devido a flexibilização das eleições e das festivas de fim de ano.

Segundo Orellena, o governo deveria ser mais conservador e flexibilizar as atividades quando os índices de ocupação das UTIs chegassem a 70%. Nesse caso, o ato aconteceu com mais de 80%, uma atitude arriscada pro momento.

 

– Vale lembrar que esses índices falharam nas duas fortes ondas de contaminação que Manaus e o estado sofreram.

 

Essa “roleta-russa” decorrente do decreto da semana passada não trará uma nova onda, mas poderá ter uma retomada ou piora nos casos, pois, tecnicamente não saímos ainda da segunda onda de contaminação.

 

– Orellana afirma que a chamada “imunidade de rebanho” não existe pela simples contaminação em massa. Somente uma vacinação em massa pode garantir uma possível imunidade coletiva.

 

Até o dia desta matéria (09/03) o governo e a imprensa local publicam que o Amazonas tende a receber pacientes de outros estados, mas segundo levantamento, o Amazonas ainda não tem essa capacidade e que esse discurso pode ser mais um jogo político visando 2022.

A situação dos municípios do interior ainda é preocupante. Com as cheias dos rios essa crise só tende a se agravar. O foco agora deve ser o próprio estado como um todo, pois o risco de aumento de casos é eminente.

 

– Além do mais, “seria um desrespeito aos profissionais de saúde que estão nos seus limites físicos”, completa Orellana.

 

Até o fim do mês de fevereiro somente o Amazonas se encontrava em situação de calamidade decorrente das novas infecções da Covid-19, porém agora, praticamente todo o país está no mesmo estado de calamidade.

Na época, cientistas e pesquisadores atentavam as autoridades para fecharem as divisas e fronteiras do Amazonas, alerta que foi sem sucesso. Mas, já não se faz mais necessário, pois a cepa que atingia o estado já se espalhou pelo país e pelo mundo e mostrou seu poder de contaminação e letalidade. “Agora é tarde”, lamenta Orellana.

 

– Para ele, O Amazonas é como um “paciente crítico e com chances baixas de sucesso devido a repetidos e evitáveis problemas”.

 

O que se espera é que as atitudes do governador não estejam só na esfera política. Já se sabe que os dois diagnósticos feitos pela mesma equipe foram falhos, levando muita gente `a contaminação e morte.

Nesses últimos dias estamos vendo, mais uma vez, o ministro da saúde se contradizer e refazer projeções de entrega das vacinas. Em um momento como esse, com todos os estados em situação de calamidade, ainda temos problemas de planejamento.

 

– Nesse quadro, governadores e prefeitos tentam se juntar para comprar vacinas, mas sabemos que isso pode ser mais um jogo político do que força tarefa. (ver matéria aqui)

 

Enquanto a briga entre as três esferas do poder executivo acontece, a população sofre com a pandemia e o descabido de alguns cidadãos que insistem em ignorar a pandemia. (ver matéria aqui)

A atenção agora é voltada para as próximas semanas quando o prazo de 15 a 20 dias – média para surgimento de novos casos decorrente da flexibilização de 22 de fevereiro poderá acontecer.

Para Orellana, “O Brasil está no seu pior momento de toda a pandemia e o AM pode enfrentar nas próximas semanas, uma precoce retomada da segunda onda”.

Se a população estiver fazendo o dever de casa seguindo as recomendações básicas, esse quadro pode não ser tão letal.

As regras estão na mesa. O jogo já começou e novos interessados parecem chegar para participar da “roleta-russa”, já disseminada pelo país.