“Quero falar além do prefeito que sou, quero falar de Brasil. Não acredito em Reforma Tributária nesse governo, que se mostra alheio e que nos envergonhou com seu discurso na ONU. Não existe desenvolvimento sem preservação”, foram essas as primeiras palavras do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, durante o evento on-line “Reforma Tributária em Debate: Reforma na visão dos municípios’’, realizado nesta quinta-feira, 24/9, pela Nação Consultoria Estratégica, em parceria com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Confederação Nacional das Indústrias (CNI).
“Já manifestei meu voto a favor do ‘Simplifica Já’, mas nenhuma das outras PECs da Reforma Tributária contempla o Polo Industrial de Manaus (PIM). Todos dizem querer a Amazônia preservada, mas torcem o nariz para a Zona Franca de Manaus, que mantém cerca de 96% da floresta em território amazonense em pé”, defendeu Virgílio, que tem conclamado prefeitos e governantes da região, inclusive deputados e senadores do Amazonas, para se posicionarem quanto aos efeitos nocivos da Reforma para o PIM.
Essa foi a quarta rodada de debates da série “Reforma para o Brasil voltar mais rápido”, que também teve a participação do presidente da Febraban, Isaac Sidney; do conselheiro emérito e membro do Conselho de Representantes da CNI, Armando Monteiro Neto; a senadora Simone Tebet; o deputado federal João Roma, relator da PEC 45/2019; Clécio Luís, prefeito de Macapá (AP); e Glademir Aroldi, presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
Para o prefeito de Manaus, ainda haverá muita discussão sobre Reforma Tributária que, segundo ele, é esperada há 30 anos. “Se o Brasil tivesse adotado a Reforma em módulos, proposta quando fui ministro, ainda no governo Fernando Henrique, hoje não estaríamos tão atrasados”, lembrou. “Olho para o Brasil atentamente, ao ponto de ter problema na vista de tanta preocupação. O país está envelhecendo sem enriquecer e imposto é uma coisa que eu não gostaria de ver. Nesse momento, volto a dizer: Não se pode discutir desenvolvimento sem falar de Amazônia”, concluiu.
O prefeito de Macapá, Clécio Luís, solidarizou-se com as declarações do prefeito de Manaus, a quem intitulou de “prefeito da Amazônia”. Para ele, a Reforma está envolta em duas situações – o momento complexo que vive o país, por conta da pandemia do novo coronavírus, e as eleições, que contaminam as discussões.
Já o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Glademir Aroldi, disse que o debate tem o objetivo de colocar todas as dificuldades em pauta em busca das soluções. “Chegou a hora de se olhar para o Brasil. No primeiro momento, alguém vai perder e alguém vai ganhar, para, ao fim, todos ganhem. Esse é o caminho para o país crescer e se desenvolver como um todo”, finalizou.
Críticas ao presidente
Principal opositor do governo Bolsonaro, quando o assunto é preservação da Amazônia, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, disse que para se discutir Reforma Tributária “uma coisa precisa ser esclarecida: Bolsonaro é candidato a reeleição? Se é, acaba qualquer perspectiva de crescimento econômico sustentável para este país”, disparou Virgílio, que também voltou a criticar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a quem já chamou de “estorvo”. “Não se pode levar a sério uma pessoa que investe 1% do seu orçamento para preservação da Amazônia”, alfinetou.
Arthur comparou o presidente Jair Bolsonaro ao ex-presidente Delfim Moreira. “Bolsonaro cuida de dar recado diários, enquanto parte de seu governo tenta governar, como ministro Guedes”, afirmou. “Interessa ao Congresso, muitas vezes, fazer dele um menor de idade, e ele é mesmo. Quanto ao ministro Guedes, sempre acaba cedendo em tudo”, lamentou.
Para o prefeito de Manaus, é preciso equilibrar fiscalmente o país e respeitar o teto de gastos. “O Brasil não amadurece e não vai para frente por tantos governos que se entrechocam em seus fracassos e não nos êxitos. Se tivesse respondendo uma pesquisa com opção de sim ou não, claro que diria sim para a Reforma Tributária. Mas falo de uma realidade de interessa ao mundo, que interfere na soberania nacional e que deve ser pauta da Reforma. Falo de Amazônia!”, encerrou Arthur Neto.