Juíza aceita pedido da promotoria e dirigente é levado direto para a prisão, mas sentença que definirá sua pena só será publicada em 2018. Ex-Conmebol também é condenado
Pela primeira vez na história, um chefão do futebol brasileiro foi condenado pela Justiça. Não do Brasil, mas dos Estados Unidos. José Maria Marin, de 85 anos, presidente da CBF entre 2012 e 2015, foi considerado culpado de seis das sete acusações de crimes do “caso Fifa”: inocentado de lavagem de dinheiro na Copa do Brasil, Marin acabou condenado por três crimes de fraude financeira (Copa América, Copa Libertadores, Copa do Brasil), dois de lavagem de dinheiro (Copa América e Libertadores) e um por conspirar/formar uma organização criminosa.
Ex-presidente da Conmebol, o paraguaio Juan Angel Napout também foi condenado. Das cinco acusações, Napout foi inocentado em duas: lavagem de dinheiro na Libertadores e na Copa América. Apesar do apelo das defesas, a juíza Pamela Chen aceitou o pedido da promotoria e Napout e Marin, que estavam em prisão domicilar nos EUA até o julgamento, serão levados imediatamente para a prisão federal ao saírem do tribunal.
– Estamos muito decepcionados com o veredito. Mas veredito é veredito. Respeitamos. Só quero dizer que estamos falando de um senhor de 85 anos de idade, que já não está em suas melhores condições – disse Charles Stillman, advogado de Marin.
Marin foi condenado pelo júri popular no Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova York, onde corre o “Caso Fifa”. O tamanho de sua pena ainda será definido pela juíza Pamela Chen, que não tem prazo para publicar a sentença. Antes da condenação, Marin estava em prisão domicilar, no seu apartamento na Trump Tower, em Nova York.
A defesa do brasileiro tentou argumentar que Marin toma remédio pra depressão e hipertensão e que a expectativa de vida média do homem é de 74 anos. No caso do paraguaio, os advogados afirmaram que há todo um aparato policial para evitar a fuga do seu cliente. Mas não adiantou. A juíza recebeu os argumentos, ponderou e disse entender as solicitações. Mas afirmou que, neste estágio, com a condenação definida, é preciso ter certeza de que os dois réus estarão sob custódia para aguardar a sentença. Segundo Pamela Chen, os dois estavam em prisão domiciliar porque haviam pago fiança e estavam em julgamento, mas como houve condenação, “não faria sentido” manter o benefício neste novo cenário. Além disso, disse que as prisões federais têm estrutura para cuidar de detentos nas condições de saúde do ex-presidente da CBF.
Marin e Napout foram presos, mas não na frente do público presente. Os agentes americanos estavam à paisana entre as pessoas no Tribunal, se aproximaram dos dois e, em seguida, a juíza pediu que todos saíssem do local. Emocionado, Napout entregou a aliança à esposa, na frente das filhas. Já Marin foi consolado pelos advogados.
Os crimes de Marin
Conspirar/Formar organização criminosa
Fraude financeira (Libertadores)
Lavagem de dinheiro (Libertadores)
Fraude financeira (Copa do Brasil)
Fraude financeira (Copa América)
Lavagem de dinheiro (Copa América)
Foi inocentado das acusações de lavagem de dinheiro na Copa do Brasil
Como se trata de decisão de primeira instância, Marin vai recorrer. A soma das penas por chegar a 120 anos, mas uma punição desse tamanho é tida como improvável. A maior investigação sobre corrupção na história do futebol foi conduzida pelos EUA porque foram usadas empresas e contas bancárias americanas para movimentar dinheiro.
Presidente afastado da CBF, Marco Polo Del Nero – suspenso pelo Comitê de Ética da Fifa por 90 dias na última semana -, e o ex-presidente da confederação, Ricardo Teixeira, foram indiciados pelos mesmos sete crimes da acusação de Marin. Mas os dois estão no Brasil, país que não extradita seus cidadãos, e portanto estão longe do alcance das autoridades americanas. As acusações contra eles não serão retiradas.
Ex-presidente da Conmebol também é condenado
No mesmo julgamento, foi condenado também o ex-presidente da Conmebol, Juan Angel Napout – o veredito do ex-presidente da Federação Peruana de Futebol, Manuel Burga, foi o único ainda não revelado. Das cinco acusações, Napout foi inocentado em duas: lavagem de dinheiro na Libertadores e na Copa América. Os jurados voltarão a se reunir na próxima terça para chegarem a uma decisão sobre Burga.
Marin foi acusado de receber US$ 6,5 milhões em propinas durante os três anos em que mandou na CBF – de 2012 a 2015. O dinheiro era pago por empresas de marketing esportivo, em troca de contratos de direitos de transmissão e marketing de campeonatos de futebol.
Ao longo de seis semanas de julgamento, os esquemas de corrupção foram detalhados por empresários que pagavam esses subornos – como o brasileiro J. Hawilla, da Traffic – e por outros dirigentes que receberam esses subornos. A defesa de Marin tentou desqualificar os delatores, mas falhou.
Os advogados do ex-presidente da CBF também tentaram pintá-lo como “um inocente útil”, chegaram a compará-lo a uma criança que “só completa o time”, mas tais argumentos não convenceram os jurados. A estratégia de culpar Marco Polo Del Nero pelos também falhou.
Os crimes de Napout
Conspirar/Formar organização criminosa
Fraude financeira (Libertadores)
Fraude financeira (Copa América)
Foi inocentado das acusações de lavagem de dinheiro na Copa Libertadores e na Copa América.
As propinas estavam relacionadas a três torneios: Copa América, Copa Libertadores e Copa do Brasil. Os dirigentes vendiam os direitos a essas empresas a preços muito baixos. Eles então revendiam a emissoras de TV e a patrocinadores por preços muito altos. Com a diferença, os empresários pagavam as propinas e enchiam os próprios bolsos.
Antes de fazer carreira como dirigente de futebol, Marin se dedicou à política. Foi vereador, deputado estadual e chegou a ser governador “biônico” de São Paulo durante dez meses (entre 1982 e 1983) durante a ditadura militar.
José Maria Marin chegou à presidência da CBF em 2012, aos 80 anos, quando Ricardo Teixeira renunciou, acossado por denúncias de corrupção no Brasil e no exterior. Como era o mais velho dos cinco vice-presidentes, Marin assumiu. Imediatamente nomeou Marco Polo Del Nero seu vice e passaram a dividir o poder.
– Marin e Del Nero eram como gêmeos siameses. Estavam sempre juntos e tinham o mesmo tratamento – definiu o argentino Alejandro Burzaco, ex-CEO da Torneos, empresa que tinha vários contratos na Conmebol, todos obtidas na base do pagamento de subornos para dirigentes.
Estiveram sempre juntos, até a madrugada de 27 de maio de 2015, quando a polícia suíça prendeu Marin no hotel Baur Aur Lac, em Zurique. Del Nero, contra quem não havia acusações na época, pegou um avião para o Brasil, de onde nunca mais se arriscou a sair. Há uma semana, o Comitê de Ética da Fifa anunciou a sua suspensão por 90 dias após ter sido citado pelos promotores do Caso Fifa, nos Estados Unidos de ter recebido US$ 6,5 milhões (R$ 21,5 milhões na cotação atual) em propinas para beneficiar empresas de marketing esportivo. Com Del Nero afastado, o vice Coronel Nunes assumiu o comando da CBF.
Fonte: Globo Esporte