Após dez anos de existência oficial, o Departamento de Esportes Paralímpicos do Vasco da Gama foi encerrado na última segunda (11). A decisão foi comunicada pelo comitê gestor do clube, em conjunto com vice-presidente Francisco Vilanova e o presidente Alexandre Campello. O clube, que alega estar em crise financeira pela pandemia do novo coronavírus (covid-19), já havia desligado 50 funcionários na segunda, enquanto outros 250 colaboradores cruzmaltinos tiveram os contratos suspensos no início de maio.
“Tínhamos equipes de natação, futebol de sete e vôlei sentado. Existíamos de forma oficial como departamento desde 2010. A natação do clube já atuava desde 2004. Não fazíamos um trabalho social. Era um trabalho competitivo. Em 2016, nos Jogos do Rio de Janeiro, eram sete nadadores vascaínos na seleção brasileira”, lamenta a ex-coordenadora do departamento, Lívia Prates.
Pentacampeão brasileiro (invicto) no futebol de sete, o Vasco era base da seleção brasileira da modalidade. O clube cedeu sete atletas à equipe nacional em 2016 e 12 nos Jogos de Lima, em 2019. “Fomos surpreendidos com essa decisão. Segundo o vice-presidente era apenas uma reunião de planejamento na segunda. E chegando lá ficamos sabendo da nossa demissão. Tentamos reverter até ontem [terça], mas não foi possível”, disse à Agência Brasil o capitão do time, Diego Delgado, que estava há seis anos na equipe.
Outra modalidade que se consolidou como uma potência em nível nacional é o vôlei sentado do clube. Vice-campeão brasileiro, em 2018, e terceiro colocado, no ano passado, a equipe era também a única do estado na modalidade. “Tínhamos dois atletas de seleção, o Diogo Rebouças e o Wescley Oliveira, que foi eleito em 2018 o melhor atleta do país pelo Comitê Paralímpico. Agora, nosso futuro é totalmente incerto. Ficamos na dependência de alguma outra instituição abraçar nosso projeto”, falou o técnico da equipe, Vinícius Fernandes.
Também demitida, a ex-coordenadora Lívia Prates comenta que a natação paralímpica do Vasco (terceira maior equipe do país) era a modalidade âncora dos projetos do clube junto à Confederação Brasileira de Clubes (CBC): “Há quatro anos, o Vasco conseguiu, inclusive, algo em torno de R$ 1,2 milhão para a reforma da piscina. Sem falar que as últimas viagens da equipe, desde o meio do ano passado, foram bancadas do próprio bolso dos atletas. E, infelizmente, acabamos morrendo na praia, à sombra dos esportes olímpicos. Esses, sim, permanecem todos no clube apenas com a suspensão de contrato seguindo a medida provisória do Governo Federal”.
Faziam parte do departamento 128 pessoas, entre atletas e alunos. Segundo a ex-coordenadora, até a metade de 2019 o Vasco pagava as passagens para a participação em torneios (hospedagens e refeições eram bancadas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro). Além disso, o Vasco pagava o salário dos três técnicos, dos dois auxiliares e da própria coordenadora, que totalizavam R$ 17.800,00 por mês. Também pagava um salário-mínimo a cada um dos 21 atletas de ponta que representavam o clube em competições. “A folha salarial total, incluindo comissões técnicas e atletas, não passa de R$ 40 mil por mês. Se esse valor for sanar a crise financeira que a ‘pandemia’ está gerando no clube, saímos felizes por ter ajudado o clube mais uma vez. Mas, se não for, saímos questionando a razão de apenas os deficientes precisarem deixar o clube”, questiona Lívia.
A Agência Brasil solicitou um posicionamento oficial do Vasco através da assessoria de imprensa do clube. Mas, até o fechamento dessa matéria, não obteve resposta.
Repercussão da decisão
A Associação Nacional de Desporto para Deficientes (Ande), que é responsável pelo futebol de sete no país, se manifestou nas redes sociais sobre o encerramento do Departamento Paralímpicos do Vasco da Gama. A nota diz o seguinte:
A Ande expressa seu profundo repúdio ao encerramento das atividades dos esportes paralímpicos do Club de Regatas Vasco da Gama, que, através do seu comitê gestor, demitiu toda comissão técnica, atletas e por consequência alunos. O esporte paralímpico do Vasco enviou atletas a todas as edições dos Jogos Paralímpicos desde Atenas em 2004, e nos últimos anos, somos testemunhas, tem sido praticamente a base da seleção brasileira de futebol de sete. Não é à toa que o Vasco é o atual campeão brasileiro da modalidade, título que conquistou 5 vezes, se tornando o maior vencedor do futebol para paralisados cerebrais. Lamentamos que um trabalho sério e que traz tantos resultados, com um orçamento pequeno em relação aos esportes profissionais do clube, seja interrompido. Nos solidarizamos com os atletas e profissionais envolvidos, reforçando que seguiremos juntos em prol dos atletas e do esporte paralímpico brasileiro.
Fonte: Agência Brasil