Com 50% da obra concluída, a requalificação urbanística da praça Dom Pedro II avança no centro da capital.
Dentro do projeto “Manaus Histórica”, idealizado pela Prefeitura de Manaus, a revitalização do espaço também tem o objetivo de promover o resgate da cultura e da identidade da cidade. “Temos hoje duas frentes principais na gestão de Manaus: a primeira é o enfrentamento ao novo coronavírus, na qual destinamos todas as nossas estratégias de saúde e grande parte do nosso orçamento; a segunda são as obras já planejadas, que têm recursos garantidos por meio de operações de créditos firmadas antes da pandemia”, destacou o prefeito Arthur Virgílio Neto.
A revitalização da praça Dom Pedro II está dentro do cronograma e foram executados serviços de jardinagem, novas instalações elétricas e drenagem, assentamento de piso e recuperação de postes do tipo Cajado de São José, com lâmpadas de LED. A obra foi licitada pelo Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), com projeto elaborado em parceria com a Comissão Especial de Paisagismo e Urbanismo.
O chafariz da praça também foi restaurado e recuperado, voltando a funcionar depois de anos. A revitalização do espaço, implantado sobre uma antiga área de sepultamentos indígenas com urnas de mais de 1.500 anos, de inspiração inglesa e com mescla de plantas exóticas, foi anunciada pelo prefeito Arthur Virgílio Neto no início do ano.
O projeto também prevê ações para o coreto, sinalização e mobiliário urbano, com instalação de lixeiras dispostas na parte interna dos acessos da praça, do mesmo modelo já usado na praça XV de Novembro e proposto para o entorno do Mercado Municipal Adolpho Lisboa. A ideia é adequar e recuperar o espaço para que seja um lugar de encontro, descanso e contemplação, permitindo ainda maior segurança aos usuários, conforto e acessibilidade.
Conforme memorial do projeto de arquitetura, um ponto fundamental na obra é a proteção do sítio arqueológico existente. Além da decisão técnica de isolar através da impermeabilização os caminhos entre os canteiros, uma equipe de arqueólogos será mantida como suporte para monitoramento das obras. Através de cores diversas em dois tipos de pedras, a carranca e o arenito negro apicoado, será possível fazer uma composição onde círculos farão alusão à possíveis locações das urnas cerâmicas, testemunhos de sepultamento.
História
A praça Dom Pedro II leva a uma reflexão sobre os palimpsestos na Amazônia. São mais de mil anos de história revelados ao escavar 30 centímetros sob a superfície no Centro mais antigo da metrópole. Conforme o memorial, pode se perceber o local como de referência nos processos de ocupação das estruturas urbanas situadas às margens dos rios amazônicos. Nos arredores de Manaus, verificam-se inúmeros assentamentos antigos e densos.
Os relatos sobre a presença de sociedades complexas na região, hoje identificada como Amazônia Central pelos pesquisadores da arqueologia, remontam ao século 16. O frei Gaspar Cavarjal descreve grandes assentamentos que se estendiam por até 16 quilômetros às margens dos grandes rios. Em 1540, Cavarjal fez uma expedição de Quito em direção à foz do rio Amazonas, que durou 2 anos e 8 meses, e de onde escreveu o livro “Relación del nuevo descubrimiento del famoso río Grande que descubrió por muy gran ventura el capitán Francisco de Orellana”.
Defronte ao Paço da Liberdade, o logradouro se limita entre as ruas Governador Vitório e Gabriel Salgado nas faces Leste e Oeste respectivamente, e entre a rua Bernardo Ramos pela face Norte e pela avenida Brasileira, atual avenida Sete de Setembro, pela face Sul, no antigo bairro de São Vicente de Fora. Era conhecida originalmente como Largo do Pelourinho, no período provincial, onde aconteciam as punições em ambiente público, uma vez que se situava nas imediações da cadeia.
Em meados de 1860, para dar passagem às ruas, hoje conhecidas como Governador Vitório, Visconde de Mauá e Monteiro de Souza, o Largo do Pelourinho é dividido e a porção maior recebe o nome de Largo do Quartel e porção menor passa a se chamar praça Tenreiro Aranha. No final do século 19, a cadeia velha foi demolida após um incêndio, cedendo lugar ao Palácio Rio Branco em 1909.
Em 1887, por ordem do presidente da Província, Conrado Niemeyer, foi transferido o coreto para a praça, antes instalado no Passeio Público, neste mesmo período foram instaladas pedras de lyoz vindas de Lisboa.
Durante a década de 1890, após o aniversário da Proclamação da República, o então Largo do Quartel recebeu o nome de Praça da República. Neste mesmo período ganhou uma fonte de bronze e novo ajardinamento.
No início do século 20, no final da primeira década, precisamente em 1907, durante a ampliação do Palácio do Governo, as grades que cercavam a Praça da República foram retiradas para mais tarde serem fixadas na fachada sul do Mercado Municipal Adolpho Lisboa.
Antes de receber o nome de Praça Dom Pedro II em homenagem ao centenário do natalício do último imperador do Brasil em 1925, ainda teve os nomes de praça Desembargador Rêgo Monteiro, em 1923, praça da Redenção, em 1924, e praça General Menna Barreto também em 1924.
Nos quarteirões lindeiros foram erguidos, ao longo do tempo, vários imóveis de valor histórico, como o Hotel Cassina, a antiga cadeia municipal, que após um incêndio deu lugar ao Palácio Rio Branco, o Iapetec, o primeiro edifício construído em Manaus erguido na década de 1950, e o já extinto teatro Éden. Com jardins em formato orgânico, rompendo com as linhas retas e simetria características do estilo francês, bem como também sem uma topiaria marcada, a proposta, na época, era fazer da praça um oásis no meio da cidade, um bosque.
Em 2002, um grupo de arqueologia coordenado pelo arqueólogo Eduardo Neves, acompanhou tradagens realizadas em diversos pontos da praça, bem como as escavações para instalação de cabeamento elétrico subterrâneo para a instalação dos postes Cajado de São José. A Dom Pedro II sofreu restauro e melhoramentos em 2010, onde alguns espécimes botânicos foram inseridos nos jardins existentes, sem preocupação com o paisagismo e a composição para contemplação, apenas para proteção dos materiais arqueológicos que afloravam.