Desigualdade é obstáculo ao crescimento, diz secretário-geral da OCDE

O diplomata e economista mexicano Jose Angel Gurría, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), defendeu nesta terça-feira (4) que a desigualdade social impede o crescimento econômico, devendo recorrer-se aos apoios sociais e à qualificação para lidar com fenômenos como a globalização e a informatização. A informação é da agência Lusa.

“Há um sentimento generalizado na sociedade de que o sistema atual não serve ou é injusto. Mais de um quarto da população [dos países membros] da OCDE encara a globalização como uma ameaça”, lamentou Gurría, em uma audiência conjunta nas comissões parlamentares de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa e de Economia, Inovação e Obras Públicas da entidade.

O líder falou durante a 49.ª Conferência Tidewater sobre Desenvolvimento, promovida pela OCDE e que termina hoje em Lisboa, com a presença de 36 delegações de vários países, organizações internacionais, sociedade civil, agências bilaterais e multilaterais de auxílio, bancos e ONGs.

Angel Gurría advogou três frentes: 1) ajudar os trabalhadores mais prejudicados (melhorando a sua empregabilidade e mobilidade para setores ou regiões em desenvolvimento), através da educação e da qualificação; 20 promover infraestruturas de qualidade e boas políticas de transportes, com investimento na conectividade física e digital e na inovação e desenvolvimento; e 3) condições para que empresas prosperem da economia global, diminuindo barreiras burocráticas e promovendo a concorrência.

Desigualdade crescente

“Hoje, temos a convicção de que a justiça social é uma questão ética, moral, política, mas é também uma questão econômica. Uma desigualdade crescente torna-se um obstáculo muito importante para o crescimento”, afirmou Angel Gurría.

Ele destacou a “desigualdade crescente”, uma vez que “as famílias mais pobres ainda não recuperaram o poder de compra que tinham em 2006” e o fato de “a média dos rendimentos dos 10% mais ricos ser agora 10 vezes superior à média dos rendimentos dos 10% mais pobres” quando “este valor era somente sete vezes superior há 25 anos”.

Referindo-se ao impacto da globalização e da digitalização dos sistemas produtivos, o dirigente da OCDE estimou que, “em média, 9% dos postos de trabalho estão em risco de vir a ser automatizados e outros 25% vão sofrer alterações consideráveis”, apesar de, por outro lado, “nos últimos 20 anos, mais de um bilhão de pessoas terem sido resgatadas da pobreza nas economias emergentes”.

“Receio que, no futuro, haja cada vez menos oportunidades de encontrar um bom emprego, o que gera descontentamento e provoca resultados imprevisíveis em eleições”, alertou ele, referindo-se aos cidadãos das regiões ditas mais desenvolvidas, aludindo ao resultado do referendo britânico que ditou a saída da União Europeia (Brexit) ou à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

Fonte: Agência Lusa