Demissão não significa fim da carreira de Ceni como técnico

Poucas vezes a semelhança entre as posições de técnico e de goleiro foi tão forte quanto nessa demissão de Rogério Ceni pelo São Paulo. Ambos vivem o limiar insano entre o fracasso e a glória no futebol. Mas, se Rogério Ceni treinou muito para iniciar o desafio embaixo do gol, não teve a mesma experiência antes de se sentar no banco para comandar um time.

Durante a sua trajetória como líder do time dentro de campo, ele conseguiu defender bolas impossíveis, chutes sorrateiros e cheios de perigo, cara a cara, expondo-se ao risco permanente e obtendo sucesso. Pegou pênalti de Coelho, em 2007, contra o Atlético-MG, ficando mais de 900 minutos sem tomar gols. Defendeu o chute de Gerrard, aos sete do segundo tempo na final que deu ao São Paulo o Mundial Interclubes…

Como técnico, função que também exige defesas do cargo dia a dia, em bombardeios da torcida, imprensa, dirigentes e até jogadores do elenco, a elasticidade, a experiência e a tranquilidade para essa tarefa não foram as mesmas.

Depois que o fato ocorre, o mar de polêmicas se avoluma. Julgamentos se multiplicam por todos os lados, para uns ele é arrogante, para outros, corajoso. E se pensarmos que um técnico ser demitido de um clube é algo injusto, mas natural, do futebol? E se tivermos a paciência para esperar um pouco mais antes de decretar que a carreira de Rogério Ceni está encerrada apenas 37 jogos após seu início?

Deste episódio, uma certeza pode ser tirada. Ceni é um ex-goleiro, não um ex-técnico, independentemente do que ele declarar agora. Antes de estrear na função de treinador, ele destacou que seria impossível se ver no Corinthians, por exemplo. No momento, porém, em que experimenta a realidade do futebol vista de um outro patamar, tudo pode mudar. Há ainda clubes que se identificam mais com o São Paulo e outros de menor expressão como alternativas.

Ceni não é de desistir de desafios. Nunca foi alguém que escreveu alguma história pela metade. Quando encarou uma tarefa, sempre deu mostras de que o fez porque sentiu que estava preparado. Agora talvez ele se aprofunde em um ou outro curso na Europa.

Rogério Ceni é demitido do São Paulo

Mas as portas do São Paulo não se fecharam, apesar de, neste momento, a impressão ser o contrário. Renato Gaúcho, por exemplo, já foi e voltou do Grêmio duas vezes como técnico. Falcão também dirigiu o Inter, saiu, se chateou e depois voltou.

Nada impede também que outras equipes se interessem em contar com Ceni. O ex-ponta Pepe, que só jogou pelo Santos, foi conhecer a rotina de outros clubes somente quando se tornou treinador, sendo inclusive campeão pelo São Paulo em 1986.

É simples. O que chocou nessa saída de Rogério Ceni do São Paulo foi a revelação para o mundo da condição humana do mito. E para ter continuidade em sua nova carreira, basta, para ele, continuar se apropriando dela. Como ele fez quando era goleiro. O maior segredo das conquistas dele foi sempre saber, enfim, que mitos são apenas imaginários.

Fonte: R7