Jovens pintores ministraram nessa quarta-feira (15) uma oficina de pintura com os pés e a boca no Memorial da Inclusão, na zona oeste da capital paulista. Crianças e adolescentes puderam aprender um pouco da técnica de pintar sem usar as mãos, com tinta acrílica sobre tela.
“Para mim, os dois foram difíceis. Com o pé, o lápis fica tremendo e com a boca, escorregando”, contou Cledson Matos, de 15 anos, que saiu do Campo Limpo, na zona sul da cidade, para participar da oficina. A falta de jeito do adolescente contrastava com a habilidade de um dos professores, Vitor Pereira dos Santos, de 25 anos, que coloria a tela com os pés.
Vitor, que pinta desde os 7 anos, rapidamente misturava as tintas e dava vida a mais um de seus quadros. Morador da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, o jovem estava feliz de compartilhar o conhecimento. “É uma coisa diferente. A maioria não tem habilidade para pintar com a boca. É sempre bom conhecer o outro lado”, disse o artista.
Uma das telas de Vitor, que assina como Psant, estava exposta no mesmo salão onde era realizada a oficina, em uma mostra de 29 obras retratando monumentos e locais icônicos da cidade de São Paulo. O dele mostra uma vista noturna da Avenida Paulista. Além da pintura, Vitor, que tem paralisia cerebral, se move de forma espasmódica continuamente e enfrenta dificuldade para falar, também se dedica à dança.
Artes plásticas e dança
“Dentro da dança, ele faz uma performance em que pinta os corpos dos bailarinos, que depois se viram para o público”, conta a mãe do rapaz, Eliete Santos. Ela disse que a família pensa em se mudar para São Paulo, para que Vitor possa cursar artes plásticas. “Facilita para dar aula e fazer projetos”, acrescenta.
Arthur Hirchi, que ministrava a oficina ao lado de Vitor, tem menos experiência do que o colega, que há vários anos dá aulas de pintura pelo país. Com apenas 12 anos, Arthur tinha a segunda oportunidade de partilhar as técnicas de pintura com a boca. O adolescente não move os braços e as pernas, devido a uma deformação das juntas causada pela artrogripose múltipla. “No começo eu fiquei nervoso. Eu não sabia o que falar”, afirmou sobre a primeira aula em que atuou como professor.
Mais seguro hoje, Arthur sabia de antemão o que queria mostrar para os participantes da oficina. “Eu pretendo mostrar como eu pinto, o jeito que eu coloco a tinta”, disse com naturalidade. O adolescente começou a pintar depois de ver o artista Daniel Ferreira, que também pinta com a boca, trabalhar. “Eu me interessei por pintura porque acho bonito e me relaxa. É uma fuga de tudo, dos problemas”, disse sobre o interesse pela arte.
A partir da vontade inicial, Arthur começou aos 5 anos os estudos em pintura. “Fiz muitas videoaulas pela internet”, lembrou. O resultado do esforço pode ser visto na exposição no Memorial da Inclusão, em que mostra um quadro retratando a fachada da Pinacoteca de São Paulo.
Inspirado pelos gestos de Vitor e Arthur, o jovem Lucas Bispo tentava finalizar a própria tela. “Eu desenhei com o pé e estou pintando com a boca”, explicou sobre o método que tentava pela primeira vez. “Já tinha ouvido falar, mas nunca tinha feito a experiência”.
AGÊNCIA BRASIL