Elaborada para servir como uma ferramenta para os fiscais ambientais identificar o filé da piracatinga comercializada nos supermercados. Este é o objetivo do “Guia de identificação das principais espécies de peixes comercializados como douradinha”, lançado na tarde desta segunda-feira (19) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), por meio do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA). A piracatinga é pescada com isca de botos e jacarés e sua pesca está proibida.
A cartilha é o resultado de uma apostila de um curso realizado em 2016, patrocinado pelo Ministério Público Federal (MPF-AM) para treinar agentes e fiscais ambientais para identificar o filé da piracatinga depois de processados e fileteados nos frigoríficos. “Durante os estudos, foi verificado que seis espécies de bagres eram embalados no mesmo pacote congelado e vendidos com o nome de fantasia de douradinha”, explica a pesquisadora líder do LMA, Vera Silva.
Ela comenta que depois do curso houve uma demanda muito grande da apostila, pois percebeu-se a utilidade desse instrumento e então decidiu-se fazer transformar o material numa cartilha onde foram incorporadas as palestras apresentadas no curso sobre a biologia da piracatinga, a pesca e também sobre a legislação que protege os botos e a que proíbe a pesca do peixe.
“As pessoas vão ter em mãos uma ferramenta completa para avaliar esses filés que são vendidos nos supermercados. Pelas fotos, é fácil de identificar os filés porque cada peixe tem sua característica especifica”, explica a pesquisadora, que é uma das autoras, juntamente com as mestres Angélica Nunes e Louzamira Biváqua.
Uma tiragem de mil exemplares da cartilha foi confeccionada e serão disponibilizadas gratuitamente para os órgãos ambientais. A cartilha foi produzida pela Editora do Inpa onde estarão disponíveis exemplares aos interessados.
De acordo com a pesquisadora Vera Silva, o boto da Amazônia, na última década, foi intensivamente caçado e morto para ser utilizado como isca para a pesca da piracatinga. Com a assinatura da moratória, a pesca e a comercialização desse peixe estão proibida desde o dia 1º de janeiro de 2015 como forma de conter a matança indiscriminada de botos e jacaré nos rios da Amazônia. Até 2020, a pesca da piracatinga está proibida.
Porém, a pesquisadora conta que recentemente foi a uma rede de supermercados em Manaus e comprou uma bandeija de surubim congelado, mas ao chegar em casa, por conta do conhecimento e da preparação da cartilha, percebeu que não era surubim. “Comprei um peixe como se fosse surubim, a preço de surubim, mas estava levando para casa, na verdade, piracatinga”.
A confirmação de que o peixe comprado era mesmo piracatinga veio com a análise genética, realizada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), parceira do projeto. “Isso demonstra que a piracatinga continua sendo pescada utilizando isca de boto ou de jacaré”, lamenta.
Para o coodenador de Pesquisas, Paulo Maurício de Alencastro Graça, na ocasião representando o diretor do Inpa, Luiz Renato de França, esta é uma iniciativa muito importante para o Instituto porque é o conhecimento gerado numa forma prática. “É um guia onde se pode identificar a piracatinga e distinguí-la das outras espécies que são comercializadas em supermercados como douradinha e que tem causado um grande efeito nos botos e jacaré utilizados como isca na pesca do peixe”, disse.
Na opinião do procurador do Ministério Público Federal no Amazonas, Leonardo Galeano, que também prestigiou o lançamento, a cartilha tem uma importância muito grande para a publicidade e o compartilhamento de informações com a sociedade. “Isso viabilizará que eventuais denúncias sejam feitas de forma mais qualificada para fins de reprimir e dar continuidade à Instrução Normativa que previu a moratória da piracatinga, justamente pelos impactos que são causados pela sua pesca”, disse.
Para a pesquisadora do Inpa, Sidineia Amadio, que também deu sua contribuição no curso para os fiscais com a palestra sobre a biologia da piracatinga, a cartilha contém informações que antes não se conhecia sobre esse peixe. “Esta é uma boa oportunidade para quem trabalha com a biologia e ecologia de peixes de confirmar informações quase inexistentes sobre a piracatinga”, disse a pesquisadora. “É um alerta para que possamos dedicar um pouco mais de esforços no âmbito da problemática que envolve esse peixe”, destacou.
Fonte: Assessoria