Amazônia registra recorde de queimadas em 17 anos

A Amazônia enfrenta em 2024 um dos cenários mais alarmantes de queimadas e incêndios florestais das últimas quase duas décadas. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam 137.538 focos de calor registrados até o início de dezembro, um aumento de 43% em relação a 2023. Esse número só é superado pelo recorde de 2007, quando foram identificados 186.480 focos.

O estado do Pará lidera em registros, com 54.561 focos, seguido por estados como Mato Grosso e Amazonas. Entre os municípios mais impactados, São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso destacam-se como epicentros da crise ambiental.

Impactos das queimadas no Pará

A situação no Pará tornou-se insustentável em diversas cidades. Santarém, por exemplo, teve a qualidade do ar severamente comprometida, com a poluição atingindo níveis 42,8 vezes superiores à diretriz anual da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre setembro e novembro, mais de 6.200 atendimentos relacionados a problemas respiratórios foram registrados nos hospitais da cidade.

“A fumaça parece estacionada. A sensação de respirar ficou muito mais difícil”, relatou Daniel Gutierrez, brigadista de Alter do Chão. Segundo ele, os incêndios na região aumentaram significativamente nos últimos anos, com a maioria deles causada por atividades humanas, como desmatamento ilegal e queimadas não controladas.

Fatores climáticos e vulnerabilidade do bioma

Especialistas apontam que condições climáticas extremas contribuíram para a propagação do fogo na Amazônia em 2024. Temperaturas elevadas, baixa umidade do ar e longos períodos de estiagem criaram o cenário perfeito para a disseminação das chamas.

“O fogo na Amazônia causa impactos devastadores porque a vegetação não é adaptada para resistir às chamas. Diferentemente do Cerrado, que evoluiu em dependência do fogo, a floresta amazônica possui uma casca fina e folhas delicadas, tornando-a extremamente vulnerável”, explicou Alexandre Tetto, engenheiro florestal e coordenador do Firelab na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Esforços para combater a crise

O combate às queimadas mobilizou esforços estaduais e federais. O governo do Pará intensificou as operações com o envio de 120 bombeiros, viaturas e helicópteros para as regiões mais afetadas. Além disso, monitoramentos via satélite garantem respostas rápidas aos focos de calor.

No âmbito federal, o Ministério do Meio Ambiente destacou a mobilização de 1.700 profissionais, 11 aeronaves e mais de 300 viaturas para o combate aos incêndios. Medidas legislativas, como a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, sancionada em julho, também buscam estruturar ações de longo prazo para prevenir e controlar queimadas.

Perspectivas preocupantes para o futuro

Agricultores como Francisco Wataru Sakaguchi, de Tomé-Açu, no nordeste do Pará, testemunharam as consequências das queimadas de perto. Após perder parte de suas plantações, Sakaguchi destaca a gravidade do cenário.

“Nunca vi meu lago secar, nem os açaizeiros morrerem pela seca. Este ano, tivemos 150 dias sem chuva. É assustador pensar no que está por vir”, afirmou o agricultor.

Enquanto o combate às queimadas avança, especialistas e moradores alertam para a necessidade de ações mais robustas e integradas. A combinação de mudanças climáticas, desmatamento ilegal e falta de fiscalização continua a colocar em risco um dos biomas mais ricos e frágeis do planeta.

Foto: Agência Santarém.