A capital paranaense e o Festival de Curitiba tornara-se palco para uma manifestação cultural única: a apresentação do Boi Caprichoso, que ressoou não apenas como uma expressão artística, mas como um ato de resistência, existência e defesa dos povos originários e da Amazônia.
A última noite do espetáculo foi marcada por uma atmosfera de celebração e orgulho, especialmente para os povos indígenas que estiveram presentes. Entre eles, Camila, representante do coletivo de mulheres da aldeia Kakareporã, a segunda aldeia urbana do Brasil e a primeira do sul, composta por três povos: Kaigang, Guarani e Xetá. Para ela, a experiência foi revigorante, especialmente após uma agenda intensa com o Conselho Estadual dos Povos Indígenas do Paraná. “Me senti reavivada. Era tudo o que eu precisava”, compartilhou.
Fábio Henrique Arevalo, psicólogo e membro do povo Guarani do Mato Grosso do Sul, residente em Londrina, expressou sua admiração pelo boi Caprichoso, despertada pelo eterno Arlindo Jr. desde 2017. “Me encantei com o boi Caprichoso. Hoje foi uma noite que não consigo nem descrever. Foi como sentir um pedacinho da cultura do povo da floresta aqui no sul, que é um lugar que precisa tanto ter contato com a cultura indígena”, revelou.
A apresentação do boi Caprichoso também foi um manifesto cultural e político, evidenciado não só pelas danças e toadas , mas pela mensagem de resistência presente em cada toada cantada. A toada “Brasil Terra Indígena”, estava na boca do público que aplaudiu o momento, lembrando-o de sua ancestralidade e da importância de preservar suas tradições em meio aos desafios modernos.
A cunhã-poranga Marciele Albuquerque, empunhou o estandarte com orgulho, representando o boi Caprichoso e toda uma identidade cultural que clama por reconhecimento e respeito. A letra da toada exaltava a terra indígena, a resistência contra a violência colonial e a luta pela existência.
“Território indígena, Amazônia indígena, meu Brasil indígena, terra ancestral”, ecoavam as vozes em coro, enquanto o ritmo dos tambores ecoava como um chamado ancestral, lembrando a todos que a luta pela preservação das terras e tradições indígenas é uma responsabilidade de todos.
Para Fábio, essa noite representou mais do que apenas uma apresentação cultural, foi um momento de conexão, de lembrar suas raízes e fortalecer sua identidade. “Sou muito Caprichoso. Todo ano, as únicas duas festas que dou na minha casa são a do fim de semana do festival de Parintins, onde reúno amigos para acompanhar, e todos só podem entrar de azul. E no meu aniversário, que é em julho, o tema é boi Caprichoso”, revelou, destacando a importância dessa tradição em sua vida.
Assim, a presença do boi Caprichoso no Festival de Curitiba encantou os espectadores e os inspirou a refletir sobre a importância da preservação das culturas indígenas e da Amazônia, em meio a um contexto de desafios e ameaças. Mais do que um espetáculo, foi um lembrete poderoso da riqueza e da diversidade cultural do Brasil, que precisa ser valorizada e protegida para as gerações futuras.
Fotos: Carlos Alexandre e Malu Dacio