“Ressonância de Afetos” inaugura nesta sexta-feira (15/03) e homenageia a ascendência afro-indígena da artista
Os afetos perdidos de sua ascendência afro-indígena foram o mote para que a artista visual Khetllen Costa elaborasse a exposição “Ressonância de Afetos”, que será aberta nesta sexta-feira (15/03), na Galeria do Largo (Rua Costa Azevedo, 290 – Largo de São Sebastião). De acordo com a artista, a exposição foi gerada durante seu processo de reconexão com sua ancestralidade afro-indígena a partir de uma linhagem matriarcal.
Tendo a fotografia transferida para diversas plataformas como uma constante nas obras que compõem a exposição, a artista resgata a identidade de mulheres afrodescendentes e indígenas que foram anonimizadas no processo de arquivamento em museus de fotografias que as retratavam.
“Consternada com esses apagamentos, compartilhei com as retratadas o afeto que gostaria de ter compartilhado com aquelas parentes que não pude conhecer”, afirma a artista, acrescentando que foi justamente a busca por imagens de suas ascendentes que a levou a pesquisar fotografias em acervos públicos.
“Estava completamente envolvida pelas perdas e ausências imagéticas que perpassam a história das minhas ascendentes”, conta Khetllen Costa. O resultado da pesquisa e das intervenções artísticas nas imagens são as obras que compõem a exposição, que também constituíram sua tese de doutoramento em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa Catarina.
O doutorado, aliás, é o motivo pelo qual a exposição foi exibida em primeira mão em Florianópolis. “A exposição foi realizada anteriormente apenas em Floripa, pois foi o lugar em que realizei o estudo de doutoramento”, conta. “A exposição aconteceu no término do curso, como uma forma de compartilhar a pesquisa poética desenvolvida ao longo do curso”, explica a artista.
Sobre a técnica predominante nas obras, a foto transferência, Khetllen informa que a intervenção do tempo em fotografias impressas foi o que a motivou. “A foto transferência é a técnica central das obras devido à sua natureza, pois a imagem quando transferida sofre com a intervenção do tempo, logo ela vai se apagando de acordo com a incidência de luz solar sobre a imagem”.
A ação da luz solar sobre a fotografia também tem a ver com o apagamento e anonimização das mulheres que se encontram nas obras de “Ressonância de Afetos”. “A partir disso eu fiz uma relação com a memória, que também é algo que se modifica com o tempo, que se torna mais pálida com o passar dos anos”, conta a artista.
“Somado a isso, existem os retratos de mulheres que foram apagadas pelo processo de arquivamento do museu. Dessa maneira encontrei na técnica da foto transferência um caminho visual possível para traduzir as questões abordadas na pesquisa teórica”, relata Khetllen.
As obras foram desenvolvidas ao longo de quatro anos de pesquisa, durante o doutorado (2018 a 2022) e trazem em sua criação aspectos que também remetem ao universo ancestral feminino, como bordado, crochê, costura, chás e cultivo de plantas. A exposição fica em cartaz até 23 de junho.
Fotos: Divulgação