Tese que busca por novos insumos e métodos para o diagnóstico de malária, sob orientação de Luis André Morais Mariúba, pesquisador do Laboratório de Diagnóstico e Controle de Doenças Infecciosas na Amazônia (DCDIA), concorreu com 1.469 trabalhos de todo país.
Concorrendo com 1.469 trabalhos de todo país, a tese “Novas abordagens para o desenvolvimento de insumos e métodos para o diagnóstico de malária”, conquistou um dos prêmios de melhor tese, do Prêmio CAPES de Tese de 2023, uma das maiores premiações de pós-graduação no Brasil. Da parceria entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Dimensions Sciences, a vencedora é Juliane Corrêa Glória, doutora pelo programa de pós-graduação em Biotecnologia (PPGBIOTEC) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), pós-doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia da Interação Patógeno-Hospedeiro (PPGBIO-Interação) do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD / Fiocruz Amazônia).
A tese, orientada por Luis André Mariúba, pesquisador do Laboratório de Diagnóstico e Controle de Doenças Infecciosas na Amazônia (DCDIA), do ILMD/ Fiocruz Amazônia, busca por novos insumos e métodos para o diagnóstico de malária. “No decorrer do trabalho, exploramos técnicas em nanotecnologia, biologia molecular, imunologia aplicada e desenvolvimento de sensores eletroquímicos. Com isso, nós desenvolvemos um novo método de solubilização de nanotubos de carbono para que estes fossem utilizados como carreadores em imunizações de galinhas com peptídeos sintéticos de proteínas do parasita da malária”, explica Juliane Glória.
A patente referente ao desenvolvimento desse método foi depositada no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), em 2018 e, os resultados também foram publicados em uma revista internacional em 2020. “Nós pudemos constatar que as galinhas imunizadas produziram anticorpos contra os marcadores alvo. Com isso, extraímos esses anticorpos, chamados de IgY, da gema dos ovos das galinhas, por meio de uma metodologia simples que causa o mínimo de desconforto e dor aos animais, a qual foi adaptada por nossa equipe e, cuja patente referente ao método de obtenção foi depositada em 2020. Esses anticorpos foram capazes de reconhecer a proteína alvo em amostras de sangue total de pacientes com malária, sem apresentar reatividade cruzada com amostras de pessoas saudáveis”, esclarece a pesquisadora.
Durante o doutorado, Juliane teve a oportunidade de ampliar os objetivos de sua pesquisa, utilizando biossensores eletroquímicos, por meio de um doutorado sanduíche. “No ano de 2021 surgiu, por meio de uma parceria com o Dr. Walter Brito (UFAM), a oportunidade de realizar um período sanduíche no Instituto Superior de Engenharia do Porto. Então, passei 6 meses morando em Portugal, trabalhando em um biossensor eletroquímico de impressão molecular. Nesse estudo, que foi o primeiro a aplicar a metodologia de estudo, tendo como alvo um antígeno marcador de infecção de malária. Nós trabalhamos com o que chamamos de “anticorpos plásticos”, que são moldes produzidos com polímeros resistentes e econômicos, para que o antígeno seja detectado por meio de sinais elétricos ao encaixar nesse molde”, destaca.
Apesar de ter realizado mestrado e doutorado pela UFAM, Juliane faz parte do grupo DCDIA da Fiocruz Amazônia desde seu ingresso no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Instituição. Sobre a honraria, Juliane afirma que receber o prêmio é um fato marcante em sua trajetória, em especial pela relevância da premiação, em uma categoria que premia teses realizadas por mulheres no Brasil.
“Quando nos inscrevemos para concorrer ao prêmio, confesso que achava muito difícil que ganhássemos, porque temos aquela ideia errada de que não conseguimos competir com o restante do país, principalmente na área de biotecnologia. Mas meu orientador confiou no nosso trabalho e isso foi um grande incentivo para que eu quisesse me inscrever. Foi um choque imenso receber um dos prêmios de melhores teses da CAPES, em parceria com a Dimensions Sciences, que é uma categoria especial que premia teses realizadas por mulheres, que tenham biotecnologia, inovação ou empreendedorismo como tema. É incrível ser reconhecida por todo esforço que fizemos, para conseguir os resultados que tivemos pois, geralmente, todos os 4 anos de doutorado se resumem ao momento de defesa e ao recebimento do diploma. No nosso caso, foi possível receber essa honraria que é a maior que um pós-graduando pode receber aqui no Brasil”, conta Juliane Glória.
Essa é a primeira vez que um estudo desenvolvido nos laboratórios da Fiocruz Amazônia tem uma tese escolhida como a melhor do Brasil pela CAPES e, para o docente que orientou a pesquisa premiada, o fato é extremamente importante. “Ficamos muito honrados com a escolha, pois sempre acreditamos muito no trabalho desenvolvido. Juliane foi uma aluna muito dedicada, focada e soube aproveitar bem as oportunidades que lhe apareceram durante seu doutorado. Os resultados obtidos deram base para a continuação da pesquisa em novos trabalhos, como no atual pós-doutorado que a Juliane está realizando, além de novos projetos de PIBIC, mestrado e doutorado de outros estudantes. Este prêmio nos motiva a continuar buscando inovar cada vez mais no desenvolvimento de insumos e métodos para a saúde”, pontua Luis André Mariúba.
SOBRE A PREMIAÇÃO
O Prêmio CAPES de Tese reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado, defendidos em programas de pós-graduação brasileiros de acordo com os seguintes critérios: originalidade do trabalho, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação e o valor agregado pelo sistema educacional ao candidato. Criado em 2005 e entregue pela primeira vez em 2006, ele abrange todas as áreas de conhecimento que têm um representante na avaliação da pós-graduação stricto sensu. Um dos objetivos da iniciativa é aumentar a visibilidade das ações positivas e indutoras da CAPES na pós-graduação brasileira.
A lista, publicada no Diário Oficial da União, traz o nome, o título da tese, as instituições e os orientadores dos 49 ganhadores, um por área de avaliação. Também foram anunciados os nomes dos 97 doutores que receberão menções honrosas da premiação pelas teses defendidas. Dentre os 49 premiados, três irão receber o Grande Prêmio CAPES de Tese, um de Humanidades, outro de Ciências da Vida e um de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar. A solenidade de entrega ocorre em dezembro.
Ao falar sobre a premiação, a jovem doutora fez questão de expressar o sentimento de gratidão, aos pesquisadores e colegas de trabalho que contribuíram para sua formação, bem como experiências acadêmicas e científicas vivenciadas. “Acredito que seja difícil para as pessoas entenderem o quanto é complexo desenvolver um projeto científico. Muito do nosso tempo e energia é requerido para que possamos realizar o melhor trabalho possível. Gostaria de deixar registrada minha gratidão ao melhor orientador que eu poderia ter, Dr. Luis André Mariúba, que me incentivou e apoiou em todos os nossos projetos, durante os 10 anos em que estamos trabalhando juntos. Ao meu coorientador, Dr. Walter Brito, pois foi por intermédio dele que foi possível fazer o doutorado sanduíche. E à minha orientadora em Portugal, Dra. Felismina Moreira, que teve muita paciência ao me ensinar algo que nunca havia feito e, a todos os meus colegas do Instituto Superior de Engenharia do Porto – ISEP, que me acolheram da melhor maneira possível”, destaca Juliane, ao lembrar sua trajetória.
Os autores dos trabalhos selecionados receberão bolsas de até um ano para estágio pós-doutoral em instituição nacional, certificado e medalha. Seus orientadores ganharão um prêmio no valor de até R$3 mil, além de certificados que também serão oferecidos aos coorientadores e aos programas de pós-graduação nos quais as teses foram defendidas.
O vencedor do Grande Prêmio ganha uma bolsa para estágio pós-doutoral em uma instituição internacional, por até 12 meses, certificado e troféu. Cada orientador vai receber premiação de R$9 mil, para participar de congresso internacional e certificado de premiação que também será entregue aos coorientadores e ao Programa.
Instituições parceiras oferecerão prêmios adicionais. A Fundação Carlos Chagas dará R$25 mil aos autores das teses vencedoras nas áreas de Educação e Ensino, além de quatro menções honrosas no valor de R$10 mil, duas em cada uma dessas áreas. Do mesmo modo, a Dimensions Sciences oferece US$2 mil para uma autora na área de Biotecnologia cujo trabalho tenha relação com inovação e empreendedorismo. Já o Instituto Serrapilheira concederá dois prêmios de R$20 mil, um para o trabalho vencedor do Grande Prêmio do Colégio de Ciências da Vida e outro para o de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar.
SOBRE A VENCEDORA
Juliane é graduada, mestre e doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas (2022), o último com período sanduíche no Instituto Superior de Engenharia do Porto (Porto-Portugal), onde desenvolveu um sensor eletroquímico de impressão molecular para detecção de antígeno malárico. Atualmente é pós-doutoranda pelo PPGBIO-Interação do ILMD/Fiocruz Amazônia e, realiza estudos com foco no desenvolvimento de anticorpos IgY e scFv para diagnóstico de malária e outras doenças infecciosas.
ILMD / Fiocruz Amazônia
Fotos: Eduardo Gomes (ILMD / Fiocruz Amazônia).