Projeto da Fiocruz Amazônia, Fiotec e USAID fortalece vacinação contra Covid-19 e aproxima serviços de saúde da população ribeirinha em Tabatinga

Em resposta às necessidades da comunidade Novo Paraíso, equipe da Secretaria Municipal de Saúde de Tabatinga promoveu ação de saúde para comunitários presentes à oficina

Além do objetivo de desenvolver estratégias para melhorar a cobertura vacinal, as oficinas de educação popular e comunicação em saúde voltadas para as populações ribeirinhas, quilombolas e migrantes da Amazônia, realizadas pelo Projeto Amazônia: Ciência, Saúde e Solidariedade no Enfrentamento à Covid-19, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia/Fiotec, em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), SITAWI Finanças para o bem e NPI Expand, estão contribuindo também para aproximar comunidades rurais dos serviços de saúde municipais. Um exemplo disso aconteceu, no último mês de fevereiro, no município de Tabatinga, na região do Alto Solimões, no Amazonas. Durante a primeira oficina da Frente 3 do projeto, que teve dois dias de duração, na comunidade Novo Paraíso, agentes de Secretaria Municipal de Saúde se mobilizaram para realizar uma ação de saúde na área, que contou com diversos serviços, entre os quais a vacinação de adultos e crianças.

As oficinas, intituladas Educação Popular e Comunicação em Saúde para Engajamento Social e Fortalecimento da Cobertura Vacinal da População Ribeirinha, Quilombola e Migrante, vêm ocorrendo em municípios do interior do Amazonas e em Rio Branco, no Acre, visando identificar fatores que impactam na baixa cobertura vacinal e levantar estratégias para divulgação da importância da imunização nos respectivos territórios por meio de iniciativas construídas de forma participativa pelas próprias comunidades. “As oficinas, além de conscientizar as comunidades para a importância da vacinação, promovem uma escuta ativa por parte dos profissionais de saúde. Os relatos dos comunitários, nesta comunidade, levaram a equipe a se mobilizar e promover uma ação de saúde, de muita importância para estas pessoas, que sofrem com as questões da distância e condições precárias de acesso ao serviço de saúde”, relata a mestre em Saúde Pública e publicitária Denise Amorim, facilitadora da oficina.

A enfermeira Nara Peres, gerente de Ações Estratégicas da Secretaria Municipal de Saúde de Tabatinga, explica que ações integradas voltadas à orientação da população são sempre bem-vindas. “Importante aproveitarmos essa oportunidade para aproximar a população dos serviços de atenção básica. Aqui no Novo Paraíso, junto com a Fiocruz, foi possível realizar testes rápidos de HIV, Sífilis, Hepatite B, além da aplicação de vacinas contra Covid-19”, afirmou Nara. Somente neste dia da ação, foram realizados seis atos médicos, duas remoções de pacientes, 13 atos de enfermagem, dez testes de Glicemia (medição da taxa de glicose no sangue) e dez aferições de pressão arterial. “Precisamos que esse tipo de atividade aconteça mais vezes, pois são ações voltadas à prevenção e à oferta de conhecimento e à multiplicação desse conhecimento dentro da comunidade”, comentou.

A oficina mobilizou grande parte dos moradores da comunidade Novo Paraíso. Alguns vieram de comunidades próximas, cujas famílias são cadastradas pela Secretaria de Saúde do município e ficaram sabendo da atividade, por meio dos agentes comunitários de saúde. “Temos os cadastros e conseguimos fazer o acompanhamento com a estratégia da Saúde na Família, através do programa de assistência à saúde rural, onde temos médico, enfermeiro, técnico de saúde bucal, agentes de saúde comunitário, toda uma equipe que elabora ações de atendimento coletivo como essa pelo menos duas ou mais vezes ao mês para trazer não só a vacina, mas também a prevenção e o tratamento de outras doenças”, comenta a enfermeira.

Uma das moradoras da Novo Paraíso, a dona de casa, agricultora e artesã Maria Cândida, 67, não perde as ações de saúde, que considera oportunidades de aprendizado e conquistas. “Uma andorinha só não faz verão, agradeço muito a Fiocruz de proporcionar esse evento, de estarmos aqui para aprender e valorizar a nossa saúde. Muito das conquistas que tivemos na comunidade foi graças à nossa união”, cita a moradora, referindo-se ao asfalto do ramal que liga a comunidade à sede do município. “Adoeci várias vezes e antes era um sofrimento levar nossa produção ou um doente para a cidade”, lembra Maria.

A falta de pavimentação dos ramais foi o problema mais citado pelos comunitários durante a dinâmica realizada na oficina de reconhecimento dos territórios onde vivem. “Precisamos também de um posto de saúde, porque ainda é difícil de entrar aqui. Se não fosse a dedicação do nosso agente comunitário de saúde, que vem de moto, muitas vezes debaixo de chuva e enfrentando o barreiro, para avisar das consultas e atendimentos não sei o que seria da gente”, reconheceu. Como agricultora, Maria se orgulha da plantação de açaí, mandioca e banana, da sua propriedade, e da sua arte como artesã, que reutiliza sementes de tucumã para confeccionar brincos, pulseiras, colares e bolsas. “Já sofremos muito carregando cachos de banana, caindo e chorando, pedindo que fizessem essa estrada, ainda falta, mas agradeço a Deus pelo que conquistamos”, relembra.

Assim como Maria, outros moradores sentem falta de infraestrutura e apontam as condições de mobilidade como fator importante para a melhoria da qualidade de vida na área. Denise Amorim, facilitadora das oficinas do projeto nos territórios ribeirinhos, explica que no contato com as comunidades é preciso ampliar sentidos e percepções para atingir os objetivos e entender como chega a assistência à saúde naquela área. “Nesta perspectiva, da educação popular, precisamos construir aproximações e diálogos com as diversas formas de ver e viver, que muitas vezes parecem controversas. Atuar na desconstrução da desinformação exige abertura ao diálogo, uma educação baseada nos saberes populares e científicos, a participação ativa da comunidade, a implicação e um tanto de amorosidade”, explica, ressaltando a importância da participação dos profissionais da saúde durante as atividades do projeto.

SOBRE OS PARCEIROS

No Brasil, a USAID, a NPI EXPAND e a SITAWI Finanças do Bem se uniram para criar uma parceria para apoiar a Resposta à COVID-19 na Amazônia. Entre 2020 e 2021, a primeira fase do projeto do NPI EXPAND Resposta à Covid-19 na Amazônia distribuiu mais de 23 mil cestas básicas e kits de higiene, capacitou mais de 500 agentes comunitários de saúde, doou mais de 1,4 milhão de máscaras feitas por costureiras locais e divulgou mensagens educativas de prevenção para mais de 875 mil pessoas na região. A Fase está promovendo maior resiliência das comunidades amazônicas através do apoio amplo a vacinação contra a Covid-19, campanhas de informação e combate à fake News, e apoiando os sistemas locais de saúde na região com equipamentos e insumos para detectar, prevenir e controlar a transmissão de Covid-19, bem como realizar o acompanhamento de casos agudos de Covid-19 e tratar as sequelas de síndrome pós-Covid-19.

Fotos: Júlio Pedrosa/Fiocruz Amazônia