Fiat faz proposta à Renault para criar 3ª maior montadora do mundo, avaliada em US$ 40 bi

MILÃO E PARIS — A Fiat Chrysler (FCA), de capital ítalo-americano, apresentou nesta segunda-feira uma proposta de fusão com a francesa Renault , que criaria a terceira maior montadora do mundo em volume de vendas. Juntas, as duas comercializaram 8,7 milhões de unidades no ano passado, atrás apenas da Volkswagen e da Toyota. O negócio, que criará uma gigante de US$ 40 bilhões em valor de mercado, foi anunciado em meio um cenário desafiador para a indústria automotiva, que tem sido pressionada a ampliar investimentos em carros elétricos e autônomos.

As negociações entre Fiat e Renault avançaram sem participação das japonesas Nissan e Mitsubishi, que formam uma aliança global com a montadora francesa. A Fiat teria condicionado as conversas à garantia de que a Nissan não entrasse na operação, ao menos no curto prazo, de acordo com fontes familiarizadas com o assunto.

Após reunião de seu Conselho de Administração, a Renault disse em nota que pretende “estudar com interesse a oportunidade desta aproximação”, que vai gerar um “valor adicional para a aliança” com Nissan e Mitsubishi. Não está claro como será a relação da montadora francesa com as duas asiáticas ou se a fusão pode se estender a ambas. A Renault tem 43,4% da Nissan.

Mais cedo, o governo francês — que detém 15% da Renault — manifestou apoio à fusão, mas ressaltou que as condições do negócio têm de ser favoráveis “ao desenvolvimento econômico da Renault e, evidentemente, aos funcionários da montadora”.

De acordo com a proposta feita pela Fiat, o negócio envolve apenas troca de ações. Os grupos italiano e francês terão 50% cada na empresa resultante da fusão, e as ações serão negociadas nas Bolsas de Nova York e Milão. Os papeis das duas empresas subiram mais de 10% nos mercados de Paris e Milão logo após o anúncio.

A família Agnelli, fundadora da Fiat, será a maior acionista individual da nova companhia. Segundo a Bloomberg, tanto o governo da França como os demais acionistas da Renault receberão um prêmio de 10% sobre o valor de suas ações.

Uma decisão final sobre a operação deve semanas, segundo fontes. Em carta distribuída a funcionários, o atual presidente executivo da Fiat, Mike Manley, disse que o processo de fusão pode levar mais de um ano para ser concluído.

O presidente do Conselho de Administração da Fiat, John Elkann, provavelmente exercerá essa função na nova empresa. Já  o presidente do Conselho da Renault, Jean-Dominique Senard, será o presidente-executivo, ou seja, a pessoa que fica à frente do dia a dia da companhia, segundo fontes a par do assunto.

No início deste ano, durante o Salão de Automóveis de Detroit, Volks e Ford anunciaram uma aliança global com o objetivo de cortar custos. A parceria começa em 2022, com foco na venda de picapes e vans e poderá ser estendida a carros elétricos e autônomos. Segundo especialistas, alianças como essa ou como a anunciada por Fiat e Renault serão fundamentais para gerar escala e criar sinergias em um ambiente cada vez mais competitivo.

A FCA calcula que a fusão vai proporcionar sinergias de US$ 5,6 bilhões. De acordo com uma fonte que acompanha o processo, o anúncio seria o resultado de “negociações iniciadas com Carlos Ghosn “, que presidia a Renault e era presidente do Conselho da Nissan. Ele foi detido em novembro de 2018, em Tóquio, acusado de sonegação e quebra de confiança, o que provocou uma crise entre as duas empresas.

Apesar de investidores terem recebido bem a proposta de fusão, analistas veem com cautela a busca de sinergias e apontam riscos de oposição ao negócio por parte de políticos e trabalhadores franceses.

– O mercado vai ser cauteloso com esses números de sinergias. Não há uma fusão entre iguais que tenha properado no mundo automotivo – disse Arndt Ellinghorst,a analista da Evercore ISI.

Negócios complementares

Com os aliados Nissan e Mitsubishi, a Renault constitui o maior grupo automotivo do mundo em volume de vendas hoje, com quase 10,76 milhões de unidades comercializadas ano passado. Mas as três empresas são independentes. Considerando os números da Fiat-Chrysler, a aliança estabeleceria uma grande distância para os rivais da indústria, com quase 16 milhões de veículos vendidos. Volks e Toyota venderam cerca de 10 milhões de unidades em 2018.

A Fiat disse em nota que a linha de produção das duas empresas é “ampla e complementar, e daria uma cobertura completa ao mercado, do segmento de luxo até o segmento voltado para o grande público.

A empresa tem um lucrativo negócio de caminhões e jipes na América do Norte, mas vem apresentando prejuízos na Europa, onde pode ter dificuldade de acompanhar a regulação antipoluição. No Brasil, anunciou recentemente investimento de R$ 16 bilhões até 2024.

A Renault, por sua vez, é pioneira no setor de carros elétricos e seus motores contam com tecnologia relativamente eficaz no consumo de combustível, além de estar presente em mercados emergentes — mas não nos Estados Unidos.

Renault e Fiat Chrysler em números
Se a fusão entre as duas montadoras for concretizada, Renault e Fiat Chrysler (FCA) formarão um gigante industrial de quase US$ 190 bilhões em volume de negócios

Fonte: O Globo

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