Amazonas doente: Síndrome de Estocolmo acomete políticos e empresários

Diante de ataques cada vez mais virulentos contra a Zona Franca de Manaus (ZFM), é de se estranhar a completa ausência de uma defesa mais enérgica do modelo econômico amazonense por parte de alguns políticos e empresários, que são os principais interessados no vigor do modelo. Ao contrário, o que se vê é uma contínua defesa do governo central, que se sente cada vez mais à vontade para atacar a ZFM, com crescentes doses de crueldade. Estaríamos presenciando um caso de Síndrome de Estocolmo?

AMOR AO AGRESSOR

Senão vejamos: “Síndrome de Estocolmo é o nome dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor” (ARAGUAIA, Mariana. “Síndrome de Estocolmo”). Ao REBOJO, a definição parece cair como uma luva no cenário que se nos apresenta diante dos ataques sistemáticos à ZFM e da reação de alguns mandatários políticos e empresariais locais.

“NÃO ESTAMOS SOB ATAQUE”

Em recente entrevista, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, declarou, sobre a redução linear do IPI, antes dos ataques das últimas 24 horas, que o panorama não demonstra um ataque à ZFM. “A medida não foi direcionada ao Polo Industrial de Manaus. Há, sim, uma repercussão negativa dela sobre as nossas indústrias que precisa ser saneada”, afirmou, numa clara defesa ao governo central, perpetrador dos golpes que praticamente inviabilizam a subsistência do nosso modelo econômico.

VAMOS FALAR SOBRE POLÍTICA?

Já na tarde desta sexta-feira (29), o vice-presidente da Fieam, Nelson Azevedo, fez uma defesa dos decretos de redução do IPI, falando de suas benesses à indústria nacional, com a ressalva de que deveriam excetuar os produtos do Polo Industrial de Manaus. E se saiu com essa: “Não vamos falar de política. Nosso candidato é a Zona Franca de Manaus”. Como assim? Vamos falar de política, sim. De política econômica. Da política econômica deste governo federal, que tanto nos prejudica. O apreço, e o medo de contrariar o agressor, não pode nos deixar passivos diante de agressões tão graves.

MAIS QUATRO ANOS DE INTIMIDAÇÃO

Quanto aos políticos, são surpreendentes as declarações de apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) – nesse ponto os empresários são mais discretos, ainda que fique óbvio seu apoio ao atual governo. Na prática, seriam mais quatro anos de insegurança jurídica para a ZFM. E mais quatro anos para o ministro Paulo Guedes levar a cabo seus planos de reduzir a Zona Franca a cinzas. Aqui cabe esclarecer que a Síndrome de Estocolmo, ao contrário do que se pensa, não se resume somente a relações entre raptores e reféns. Suas características marcantes são a existência de relações de poder e coerção, ameaça de morte ou danos físicos e/ou psicológicos e um tempo prolongado de intimidação, como ensina Mariana Araguaia.

DOIS GOLPES EM 24 HORAS

Foram dois golpes mortais nas últimas 24 horas. Um ao Polo de Concentrados, cujo IPI foi zerado, e outro ao Polo Industrial como um todo, com uma nova redução do IPI a 35% e a permanência de 25% para alguns produtos produzidos na ZFM. O governo do Estado já anunciou que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra os dois decretos. Isso depois do presidente ter gravado um vídeo, ao lado do governador Wilson Lima (UB), garantindo que manteria as vantagens comparativas da ZFM, o que se revelou mais uma balela.

DESTRUIÇÃO DA AMAZÔNIA

Com políticos e empresários acometidos da Síndrome de Estocolmo, cabe aos que fazem oposição ao governo central fazer os contra-ataques mais veementes. O deputado estadual Serafim Corrêa (PSB) lembrou que as medidas contra a ZFM afetam a preservação da Amazônia. “Mantenho a minha posição sempre firme contra esse governo que não se cansa de prejudicar a Amazônia e que vai gerar problemas internacionais para o Brasil. O mundo não aceita a destruição da Amazônia. Isso é um dogma”, afirmou, ao repudiar os dois decretos publicados.

DECRETOS DISCRIMINATÓRIOS

O vice-presidente da Câmara, deputado federal Marcelo Ramos (PSD) classificou como “discriminatórios” os dois decretos presidenciais que reduzem em 35% e 25% o IPI. “A impressão que se tem é que o governo federal quer, deliberadamente, acabar com a Zona Franca e levar os empregos e as riquezas geradas por estas atividades no Amazonas para São Paulo ou para fora do país”, disse.

“GOLPE TRAIÇOEIRO”

O deputado federal Zé Ricardo (PT) informou que, nesta sexta-feira mesmo, já protocolizou na Câmara Federal um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) para sustar os decretos desta quinta e sexta-feira, que chamou de “golpe traiçoeiro”. “Vamos trabalhar para excluir todos os produtos da ZFM de serem afetados com essa nova redução do IPI. O prejuízo continua, porque a redução do IPI inviabiliza mais ainda todos os outros segmentos produzidos na Zona Franca. O presidente é inimigo do Amazonas”, declarou Zé Ricardo.