RIO — Autoridades de China, Indonésia e Etiópia suspenderam os voos do avião Boeing 737 Max 8 nesta segunda-feira, depois que o modelo sofreu duas quedas em menos de seis meses. As dúvidas sobre este tipo de aeronave aumentam depois que um acidente com um avião da Ethiopian Airlines perto de Adis Abeba, a capital etíope, matou 157 pessoas no domingo.
A descoberta nesta segunda-feira da caixa-preta com o gravador de voz da cabine e os dados digitais de voo, informada pela TV estatal da Etiópia, deve revelar detalhes sobre a causa da queda. Em outubro passado, outro acidente com o mesmo modelo, cujas causas são ainda desconhecidas, já deixara 189 mortos na Indonésia.
“Embora ainda não saibamos a causa do acidente, tivemos que decidir suspender a frota em particular como medida extra de segurança”, disse a Ethiopian Airlines. A companhia tem outros quatro aviões 737 MAX 8, de acordo com o site de rastreamento de voos FlightRadar24, e ainda espera outras 25 unidades já encomendadas.
A China, por sua vez, detém quase cem unidades do Boeing 737 Max 8, mais de um quarto da frota global, que agora estão paralisadas. A maioria das outras empresas que operam o modelo disseram que continuarão funcionando normalmente e não têm planos de cancelamento de voos.
A Gol Linhas Aéreas é a única companhia brasileira que tem aviões deste modelo, com sete unidades. Outras companhias que o usam são American Airlines, Southwest Airlines, United Airlines, Aerolíneas Argentinas, Icelandair e LOT POlish Airlines.
Sob condição de anonimato, uma autoridade americana disse à agência Reuters que não há planos no governo americano de seguir os passos de China, Etiópia e Indonésia, argumentando que o Boing 737 Max 8 tem um bom histórico de segurança nos Estados Unidos e que ainda não há informações claras sobre o que provocou o acidente perto de Adis Abeba.
A Boeing disse que a investigação sobre o caso ainda está nos estágios iniciais e, por isso, não tem informações suficientes que justifiquem uma mudança nas orientações para as operadoras do modelo. A empresa anunciou o envio de uma equipe técnica para auxiliar nas averiguações em campo sobre o caso. As ações da Boeing caíram 11% nesta segunda-feira.
Não é comum suspender voos de um tipo específico de avião, a menos que um problema mecânico particular ou uma falha de componente seja identificado e possa ser inspecionado, explica Andrew Herdman, diretor-geral da Associação de Companhias Aéreas da Ásia-Pacífico.
— Neste caso, não está claro qual será o item de ação após a suspensão — diz Herdman. — O que falta agora é saber o que aconteceu neste caso. Isso significa encontrar as caixas pretas e juntar outras evidências circunstanciais de registros de controle aéreo, entre outros.
Versão mais econômica do 737
O Boeing 737 Max 8 foi lançado em 2017 como uma versão tecnologicamente mais avançada, com menor consumo de combustível, do popular 737. O 737 Max — que tem na sua frota unidades de quatro tipos, com séries numeradas de 7, 8, 9 e 10 — se tornou o avião mais vendido na história da Boeing.
A Ethiopian Airlines tem uma sólida reputação de segurança e tem feito esforços para tornar as viagens aéreas mais baratas e frequentes na África. A empresa faz parte da Star Alliance, ao lado de Lufthansa, United e Avianca. É uma das maiores transportadoras aéreas do continente no que diz respeito ao tamanho da frota. No ano passado, a expectativa da companhia era transportar 10,6 milhões de passageiros.
O avião que caiu no domingo, entregue à Ethiopian Airlines em novembro, era novo e caiu apenas seis minutos após a decolagem. Uma história semelhante à do avião da Lion Air, que mergulhou no mar de Java em outubro passado, pouco após decolar de Jacarta, a capital indonésia.
A aeronave, que passou por uma “manutenção rigorosa na primeira inspeção” em 4 de fevereiro, retornara à capital etíope vindo de Johannesburgo, na África do Sul, no domingo de manhã. Segundo a companhia aérea, o capitão do voo de domingo, Yared Getachew, de 29 anos, tinha mais de 8 mil horas de voo e um “desempenho louvável”. Ele chegou a pedir para retornar à pista de decolagem.
O último acidente envolvendo a Ethiopian Airlines aconteceu em janeiro de 2010, quando um Boeing 737 caiu no Mar Mediterrâneo pouco depois de decolar de Beirute, no Líbano. Nenhuma das 90 pessoas a bordo daquele voo — 82 passageiros e oito tripulantes — sobreviveu.
De acordo com informações preliminares, havia passageiros de 35 nacionalidades diferentes a bordo do avião, entre eles etíopes, quenianos, franceses, britânicos, americanos e canadenses. Não havia brasileiros entre as vítimas. A ONU informou que 19 funcionários de suas agências morreram.
A investigação começa na Etiópia, mas outros países também estarão envolvidos, como Quênia e EUA, porque a aeronave foi fabricada no país. A prioridade será garantir que não há ligação entre os acidentes na Etiópia e na Indonésia, e outros países e companhias aéreas sem dúvida estarão atentos, dada a popularidade global do avião. A Administração Federal de Aviação dos EUA também monitora o caso.
De acordo com informações preliminares, havia passageiros de 35 nacionalidades diferentes a bordo do avião na Etiópia, entre eles etíopes, quenianos, franceses, britânicos, americanos e canadenses. Não havia brasileiros entre as vítimas. A ONU informou que 19 funcionários de suas agências morreram.
Fonte: O Globo