Gaitano Antonaccio*
Refleti bastante, antes de escrever este artigo, porque diante da dor da fome e da miséria, já me senti culpado de alguma forma, porque, se na minha mesa, algum filho ou neto deixa no prato uma sobra que significa um excesso na hora de comer o que seria suficiente para matar sua fome, e eu não fui capaz de censurá-lo, alegando que aquela sobra no seu prato deveria estar fazendo falta no estômago de alguma criança que talvez estivesse lá fora, na calçada, sentado num banco úmido e sujo, esperando que alguém fizesse o milagre de socorrê-lo naquele instante, sim, eu sinto uma culpa perversa.
A fome está localizada no estômago, mas a sua dor se expressa na alma, na mente, no coração, e deixa o espirito dominado por uma grande revolta, pois a alimentação é um direito sagrado de qualquer ser humano, e nem mesmo os irracionais vivem sem se alimentar. Pão e água, jamais poderia faltar na mesa de qualquer ser humano na face da terra. Entretanto, quando a miséria atinge alguém, alguma família, uma região, fica difícil conseguir esse pão e essa água. E a quem cabe a culpa da existência da miséria e do horror da fome? São muitos e o pior de tudo é que esses desgraçados que desgraçam tantos seres humanos, jamais são punidos pelas leis dos homens.
A grosso modo e sem muitas buscas, eu considero culpados por tanta dor e tanta miséria, os congressistas que aprovam uma verba escandalosamente grandiosa para seus gastos com campanhas e outras atividades mesquinhas, retirando bilhões de reais que poderiam servir de alívio para tanta miséria e tanta dor. Agem como parasitas humanos, gananciosos, avarentos, egoístas, insensíveis à dor dos que os sustentam e nada lhes comove na busca pelo poder indecente e forjado, culpados são todos os ladrões dos cofres públicos, corruptos miseráveis, que não se importam com as desgraças que promovem com suas atitudes bestiais; considero também culpados, os injustos representantes da justiça, que vivem como nababos com orçamentos capazes de cobrir gastos exorbitantes, á custa desses miseráveis, e comem caviar, tomam vinhos e whisky da melhor qualidade, possuem mordomias até para sentarem nas suas poltronas contaminadas pela indiferença e são incapazes de parar os seus veículos blindados, para atender a súplica de um pedinte que lhes pedem quaisquer tipos de esmola para saciar suas fomes ou aplacar suas dores. São externamente togados, elegantes, mas verdadeiros monstros se deixassem aparecer suas almas; ainda considero culpados, os capitalistas incapazes de se unirem para constituir uma grande organização não governamental, que possuísse onde quer que houvesse fome, uma representação destinada exclusivamente a alimentar seres humanos miseráveis e famintos; e considero culpados, da mesma forma, os aproveitadores desumanos, que ao receberem verbas destinadas a combater a fome e a miséria, por estarem no comando de algum organização favorecida, aproveitam para roubar essas verbas e não sentem a menor piedade pelos que morrem de fome e inanição, quando poderiam ser salvos se não fossem roubados.
Mas amigos, a humanidade está realmente precisando de amor, de solidariedade, compreensão, da participação de todos nós, e uma de nossas maiores missões deve ser a de expurgar de seus postos, os culpados acima apontados, pois o mundo precisa de uma limpeza não com água sanitária, álcool gel, detergente ou qualquer outro líquido malcheiroso, a limpeza a ser feita, será na mente, na alma e no coração dessa corja mais miserável espiritualmente do que os que passam fome, por causa de suas atitudes infelizes.
E quem quiser pode observar com a mais profunda atenção que não conseguirá notar o mínimo de remorso no rosto ou no coração de quaisquer um desses desgraçados que representam o povo e os que devem defender os que estão na miséria e passando fome. Clama aos céus tamanha insanidade mental de humanos sem humanidade, de poderosos que caíram em desgraça pela falta de solidariedade, que não sentem compaixão, que perderam a mínima noção do espírito público e do respeito à dignidade humana. São todos, no sentido filosófico e verdadeiro da justiça, criminosos inalcançáveis…
Que Deus tenha piedade dos miseráveis do Brasil neste NATAL e remova dos corações dos miseráveis que causam tanta dor, essa indiferença nojenta, incapaz de qualificar como ser humano, quem procede com tamanha insensatez, blindado por um sistema onde a Lei virou arcadismo e a impunidade modernismo. Povo que não se rebela e se cala, vira escravo de senzala!
*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de Ciências Contábeis; de Letras do Brasil; de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras