CARACAS – Logo após desafiar uma ameaça de prisão por parte do governo de Nicolás Maduro e voltar à Venezuela sem sofrer nenhum tipo de repressão, Juan Guaidó, que se proclamou presidente interino com apoio da Assembleia Nacional e assim foi reconhecido por 50 países, prometeu continuar as mobilizações para derrubar o atual governo, convocando um novo protesto para o próximo sábado.
— O que virá para cessar a usurpação? A mobilização, a rua, a união de todos os setores, a cooperação internacional — afirmou ao lado de sua mulher, em discurso em um comício em Caracas que ele próprio havia convocado pelas redes sociais na véspera. — Há dois elementos hoje que asseguram a transição: a união e nos mantermos mobilizados.
Guaidó fez um chamado para o Exército “deter” os chamados “coletivos” pró-governo que participaram dos enfrentamentos no dia 23 de fevereiro, quando liderou uma tentativa fracassada de ingressar no país com ajuda internacional.
Em uma tentativa de separar as Forças Armadas de outros grupos que apoiam Maduro, ele definiu esse grupos paramilitares como a “última linha de defesa” do governo, reconhecendo todavia que “não podemos definir como um êxito a iniciativa de 23 de fevereiro”. Guaidó também deixou de atribuir responsabilidade direta pela repressão que deixou sete mortos e dezenas de feridos às Forças Armadas, de cujo apoio ele precisa para efetivar seu projeto de tirar Maduro do Palácio de Miraflores.
— Exigimos justiça diante de nosso povo. Os senhores das Forças Armadas devem deter os coletivos armados que atuaram no dia 23 de fevereiro. Ser cúmplice por omissão também é ser cúmplice de crimes de lesa humanidade. Basta de impunidade — disse. — Senhores das Forças Armadas: é evidente que depois das ameaças (de prendê-lo) alguém não cumpriu. (…) A cadeia de comando está quebrada.
Ele repetiu a última frase ao afirmar a jornalistas que foi saudado como “presidente” pelos funcionários da Imigração. O político definiu sua volta como uma “pequena vitória” e comunicou que se reunirá com sindicatos e funcionários públicos venezuelanos nesta terça-feira para “um importante anúncio”, sem explicar o que este será, acrescentando somente que “não se pode permitir que a burocracia esteja sequestrada”.
— É preciso deixar sem funcionamento este regime que nos oprime — disse.
O líder da oposição a Maduro fez um agradecimento aos presidentes da Colômbia, Iván Duque, do Brasil, Jair Bolsonaro, do Chile, Sebastián Piñera, do Paraguai, Mario Abdo Benítez, e do Panamá, Juan Carlos Varela, por “respaldar a luta da Venezuela”.
Minutos depois, no Twitter, Guaidó agradeceu a representantes diplomáticos que o receberam no aeroporto, de “Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Peru, Equador, Estados Unidos, Alemanha, Espanha, França, Holanda, Portugal e Romênia, que acompanharam a nossa chegada à Venezuela em uma demonstração do firme compromisso do mundo com a nossa democracia”. A reportagem não conseguiu identificar por uma fonte independente se o Brasil enviou algum representante para o aeroporto.
Guaidó reiterou que voltará a tentar que a ajuda internacional entre no país, sem detalhar o próximo passo a este respeito. Ele também lamentou a morte de quatro índios por apoiadores de Maduro, dizendo, que, ao cometer as mortes, “o regime mostrou a sua pior cara”.
Fonte: O Globo