O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) marcou presença no Seminário “Políticas públicas, intersetorialidade e a participação popular nos territórios marcados pela violência e seus impactos na saúde”, realizado no último dia 6/12, pela Fiocruz Ceará, na cidade de Fortaleza.
O evento é parte das atividades presenciais do Programa Institucional de Articulação Intersetorial Violência e Saúde (PI-AIVS), iniciado em 2022, pelo ILMD/Fiocruz Amazônia, com a realização, em Manaus, do Seminário “Violência e Saúde em Tempos de Emergências Sanitárias Globais”. O programa prevê a realização de seminários temáticos pelas unidades da Fiocruz no Brasil com a finalidade de promover reflexões e proposições em relação à violência e saúde, propiciar a interação entre pesquisadores e sociedade civil e ampliar as discussões acerca do engajamento institucional na prevenção das violências e promoção da saúde.
Representando o ILMD/Fiocruz Amazônia, o epidemiologista Jesem Orellana, chefe do Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (LEGEPI), coordenou a mesa-redonda de abertura do evento e alertou para o impacto dos diferentes tipos de violências sobre a população brasileira, sobretudo o flagelo da violência urbana entre os jovens. “Trata-se do subgrupo mais exposto, em particular no que tange à vitimização por homicídios, majoritariamente concentrada em indivíduos pobres, negros e invisibilizados como os jovens indígenas”, explicou. Carla Celidônio, coordenadora da Fiocruz Ceará, e Fernanda Lages, coordenadora do PI-AIVS, abriram o evento, e a coordenação das três mesas-redondas que se sucederam ficou sob a responsabilidade das pesquisadoras Luciana Aleluia, Vanira Pessoa, Luciana Lindenmeyer e Fernanda Lages.
Orellana defendeu uma maior valorização da participação dos jovens no processo de construção de políticas públicas que visam mitigar os impactos da violência sobre a população, especialmente àquelas de base comunitária ou que sejam sensíveis aos desafios que emergem de territórios historicamente estigmatizados, os quais seguem sendo fortemente impactados pela violência letal, cada vez mais associada a atividades ilícitas como a guerra entre facções envolvidas com o tráfico de substancias entorpecentes ou até mesmo com a escalada da violência policial nos últimos anos, por exemplo.
“Não podemos “naturalizar” a violência, seja urbana ou não, em territórios estigmatizados ou não, ou ainda, a violência de Estado ou a de gênero”, defendeu o epidemiologista. Segundo ele, a mesa redonda cumpriu a sua finalidade, pois deu voz à juventude, representada pelas jovens Maria Pereira e Tamara Cristina, do coletivo cearense “Méraki do Gueto”, e pela jovem liderança indígena Raquel Jenipapo, da Aldeia Jenipapo Kaninde do Ceará, como também permitiu ricas e construtivas reflexões mediante a participação da colaboradora Sarah Menezes, do Comitê de Combate e Prevenção à Violência da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Ceará, que enfatizou a importância da cultura da prevenção e da paz em territórios vulneráveis, mas sempre alinhada a princípios elementares de respeito aos direitos humanos e justiça social.
O Seminário reuniu pesquisadores, especialistas e representantes da sociedade civil organizada de diversas instituições e entidades regionais e nacionais, que abordaram temas atuais e complexos como as “Violências e seus impactos sobre a vida das mulheres, mulheres negras e LGBTQIAPN+”, os “Impactos da violência na saúde da população, dos trabalhadores e trabalhadoras nos territórios e as respostas do poder público”, bem como relatos de Experiências exitosas com pesquisas sobre violências, em formato de vídeos, fotografias e relatos orais.
De acordo com Jesem Orellana, o evento alcançou seus objetivos. “Cumprimos parte crucial do planejamento anual do PI-AIVS da Fiocruz, como também, viabilizamos a operacionalização de estratégia que permitiu uma reflexão crítica sobre importantes nuances da Violência e saúde, Políticas públicas de enfrentamento às violências; bem como uma louvável Articulação entre academia, sociedade e instituições, no intuito de traçar estratégias conjuntas para a mudança do preocupante quadro da violência no Brasil contemporâneo”, observou.
O Seminário teve como finalidades promover reflexões e proposições articuladas às diversas realidades vivenciadas pelas populações em relação as violências e saúde, considerando as dimensões territoriais, locais, regionais e nacional; propiciar a interação entre pesquisadores, representantes das políticas públicas, sociedade civil, estudantes acerca dos saberes, práticas e políticas atuais no tema das violências; e ampliar as discussões sobre violências buscando fortalecer o engajamento institucional na prevenção das violências e promoção da saúde.
Fonte: Fiocruz Amazônia