Representante de Guaidó nos EUA redobra pressão a militares com pedido de reunião com Comando Sul

RIO — No que foi considerado por seus aliados e colaboradores um claro gesto de pressão aos membros da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb), o presidente da Assembleia Nacional (AN) da Venezuela, Juan Guaidó, solicitou formalmente o início de conversas sobre “cooperação” com o Comando Sul dos Estados Unidos.

O passo dado por Guaidó, autoproclamado presidente interino do país em janeiro, foi considerado “importante e necessário” por seu embaixador na Organização de Estados Americanos (OEA), Gustavo Tarre Briceño. Em entrevista ao GLOBO, Briceño afirmou que a oposição continua considerando como última opção uma ocupação militar estrangeira na Venezuela.

— Vamos buscar mecanismos de cooperação militar internacional — reiterou.

O pedido feito por Guaidó, antecipado por ele sábado numa passeata em Caracas, foi transmitido em uma carta enviada por seu embaixador nos EUA, Carlos Vecchio, ao chefe do Comando Sul, o almirante Craig Faller.

Renovação em julho

O contato com o Comando Sul, apontou uma fonte próxima do presidente da AN, tem como um de seus objetivos centrais redobrar as pressões aos militares da cúpula da Fanb, com os quais Guaidó continua negociando.

— O plano do dia 30 de abril fracassou, mas as negociações com altos militares e civis do governo chavista continuam e avançam — enfatizou a fonte opositora.

Se as negociações de fato existem, a cúpula militar venezuelana tem um prazo num horizonte não muito distante. No próximo dia 5 de julho, a cúpula será renovada e os que hoje ocupam lugares de poder passarão para a reserva.

— Os generais de maior peso na Fanb estão negociando uma saída que lhes dê liberdade, proteção e a garantia de que poderão aproveitar impunemente todo o dinheiro que é fruto da corrupção que tomou conta do mundo militar. Depois do dia 5 tudo vai mudar para essas pessoas — frisou a fonte, que diferenciou o que está acontecendo atualmente na Venezuela com o Chile de 1973, quando foi derrubado o governo do presidente Salvador Allende.

Naquele momento, apontou, “houve uma conspiração institucional liderada pelo general Augusto Pinochet contra o presidente Salvador Allende. Hoje temos militares isolados negociando seu futuro”.

Enquanto essas supostas conversas se mantém, deputados opositores tentam driblar a perseguição do governo Maduro. Vários já estão refugiados em embaixadas e outros, como Juan Andrés Mejía, ainda avaliam o que fazer.

Em entrevista telefônica, Mejía afirmou que ainda não decidiu se permanecerá na clandestinidade, rumará para o exílio, pedirá asilo diplomático ou ficará exposto uma detenção, como aconteceu há menos de uma semana com o vice-presidente da AN, Edgar Zambrano.

— Estou analisando minhas opções e pensando em minha família, tenho uma filha pequena — disse Mejía.

O deputado, um dos líderes opositores que iniciou sua carreira política nas marchas estudantis de 2007, confirmou a existência de conversas entre Guaidó e altos militares.

— O presidente já disse que está conversando e está. A insatisfação dentro da Fanb não vai se resolver perseguindo opositores. Não existe coesão entre Maduro e os militares e essa situação será cada vez pior.

Fonte: O Globo